Um novo ciclo das commodities pode estar a caminho.

Matheus Jaconeli é economista na Nova Futura Investimentos e escreve neste espaço aos fins de semana

Um novo ciclo das commodities pode estar a caminho. Isso porque entre muitos eventos que ocorrem na economia, os ciclos são muito importantes.

Como acontece na natureza e, também em fenômenos de ordem natural, as variáveis não possuem comportamento linear, indicando movimentos de contração e expansão, a depender das condições, em que elas estão expostas ou, em outros casos, evidencia o seu funcionamento, como acontece com o coração ao bombear o sangue para o restante do corpo.

Em economia, tais expansões e contrações podem acontecer por conta de uma política governamental, menor ou maior nível de atividade econômica, entre outros fatores.

Como pode ser visto no gráfico abaixo retirado do livro “Macroeconomia” os economistas Rudiger Dornbush, Stanley Fisher e Richard Startz, os ciclos econômicos passam por um pico, recessão, quando há queda atingindo um vale, momento mais baixo e, posteriormente, recuperação, até atingir um novo pico:

Um novo ciclo das commodities pode estar a caminho.

Nesse caso, temos um ciclo do produto, em outras palavras, de tudo que uma economia produz. Em momentos de crise, a atividade econômica tende a diminuir, como ocorre agora. Após a queda a economia começa a voltar a crescer e isso pode começar por conta das condições de mercado ou por estímulos realizados pela política monetária e fiscal, ou até mesmo o crescimento de um player global que contribua, demando dos demais países, como foi o caso da China.

Os Ciclo das commodities:

Na primeira parte da década deste século, o crescimento da economia global foi marcado pelo avanço de economias emergentes, lideradas pela China, principalmente entre 2000 e 2002, além do crescimento das demais economias e tendo ganho adicional até o período de 2008, antes da grande crise financeira.

O crescimento econômico global foi fortemente impulsionado, pela primeira vez, pela simbiose entre as duas atuais maiores economias do mundo, China e Estados Unidos. Enquanto a China crescia fortemente a base dos investimentos externos, abertura de sua economia exportando para todo mundo a baixo custo e com forte interferência do investimento estatal, os Estados Unidos também crescia, mas esse pelo lado do consumo e pelo estímulo do crédito.

Mesmo com as incertezas no mercado internacional devido ao receio global ocasionado pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o crescimento robusto da China e do restante das economias, ao passo que os Estados Unidos se armavam na “Luta Contra O Terror”, fez com que os preços globais das commodities, contribuindo para o crescimento econômico de países emergentes que são grandes exportadores como o Brasil.

No entanto, em 2002, o cheques de oferta climática impactou negativamente o mercado de comodities, principalmente no que diz respeito às do setor agrícola devido a efeitos de furacões como o El Nino e, posteriormente, as metálicas tiveram crescimento menos vigoroso.

Todavia, a partir do segundo semestre de 2003, o crescimento econômico das duas maiores economias do planeta, conforme comentado acima, contribuiu para a elevação nos preços das commodities.

Um novo ciclo das commodities pode estar a caminho.

Acima seguem o crescimento econômico da China e dos Estados Unidos, entre os períodos de 2002 e 2004, contribuindo para o crescimento nos preços das commodities.

Olhando apenas para o crescimento da economia chinesa, o desempenho crescente segue até meados de 2008, até que chegue à crise financeira de 2008, dando fim ao ciclo pré-crise.

Até então, variáveis como o crescimento de um país que demanda muitas comodities agrícolas, energéticas e metálicas devido a quantidade de investimentos feitas e uma população enorme que tinha aumento na renda e no consumo, juntamente com os EUA que crescia com base no consumo e no crédito, contribuíram para mais um pico do ciclo.

Com a crise financeira de 2008 e, por consequência, desaceleração da economia global, os preços caíram. Como resposta, os países desenvolvidos adotaram políticas monetária e fiscal expansionistas, injetando dólares na economia global e, consequentemente, fazendo com que as commodities, que são cotadas em dólar, tivessem melhora em seus preços. No gráfico abaixo, temos o desempenho dos preços do índice Thomson Reuters/CoreCommodity CRB que é calculado com média dos preços futuros de 19 commodities:

Um novo ciclo das commodities pode estar a caminho.

Posteriormente, as commodities passaram por um processo de depreciação devido ao aumento nas taxas de juros nos Estados Unidos, após a retomada da economia com a redução dos efeitos da crise na economia global, principalmente a partir de 2015, com o recrudescimento no aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, mesmo que de forma gradual.

Um novo ciclo das commodities pode estar a caminho.

COVID-19 e o retorno:

Com a crise da Covid-19 começando pela China, principal importador de commodities do mundo, os preços de minério de produtos agrícolas, metálicos e energéticos, tiveram forte queda. Posteriormente, os efeitos do vírus se espalharam por todo mundo, levando todas as economias terem problemas de demanda e de oferta de vários produtos, diminuído a aquisição destas commodities por parte de muitos produtores, fazendo os preços caírem.

Outro fator importante foi a valorização do dólar frente a outras moedas. O fato de os investidores buscarem segurança em ativos livres de risco, a demanda pela moeda no mercado internacional cresceu fortemente, gerando queda nos preços das commodities.

Um novo ciclo das commodities pode estar a caminho.

No gráfico mostra o desempenho do DXY, um índice de moedas que compara o dólar americano com uma cesta compostas por outras moedas como o dólar canadense e australiano, libra, euro e franco-suíço.

Quando a pandemia avançou no ocidente, a indicador subiu fortemente, e ao fim do ano de 2020, com a depreciação do dólar, o indicador caiu, devido às expectativas de estímulos à economia americana e melhora na percepção de risco percebido dos agentes.

 Com a queda do dólar os preços das commodities subiram gerando a possibilidade de um novo ciclo. Adicionalmente, a retomada do crescimento da economia global liderada pela China também ajudou na retomada dos preços.

Como é possível no gráfico acima, o Thomson Reuters/CoreCommodity CRB, ao fim do ano de 2020, o indicador voltou a subir, fazendo com que muitos especialistas acreditem em um novo ciclo das commodities devido às perspectivas de estímulos fiscais nos Estados Unidos e mais um longo período de taxas de juros baixas no mundo, além da permanência do crescimento econômico da China.

Contudo, ainda existem riscos. A COVID-19 mostra sinais de aceleração à medida em que o processo logístico segue mais lento que esperado para a vacinação da população em todo mundo. Em um cenário de pior que o esperado, para COVID-19 e a possibilidade de alguns entraves do pacote de estímulos nos Estados Unidos, apesar da “onda azul” no país, isto é, a vitória de Biden e seus correligionários não só na Casa Branca, mas também no Senado e Câmara, contribuem para o aumento do risco percebido, o que pode fazer os agentes voltarem a aplicar ativos de baixo risco aumentando a demanda por dólares a afetando os preços internacionais das commodities.

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