Emergentes e desenvolvidos adotam medidas diferentes contra a crise

Matheus Jaconeli é economista, trabalha na Nova Futura Investimentos e escreve neste espaço regularmente

Muitas vezes países emergentes tomam posturas diferentes mediante um momento de crise, levando em consideração suas características estruturais o que dá mais ou menos espaço ao enfrentamento de uma crise econômica. Tal comportamento pode ser evidenciado durante a crise de 2008 e na década de 90, quando o Consenso de Washington clamava por maior austeridade e alguns países ampliaram seus investimentos.

Emergentes e desenvolvidos adotam medidas diferentes contra a crise

Os países desenvolvidos

Atualmente, o os países de primeiro mundo seguem um receituário neo-keynesiano, isto é, políticas de gastos para estimular o lado da demanda agregada, pois se acredita que existe uma insuficiência da mesma devido à diminuição na renda e no consumo. Tal argumento fica evidenciado pelos discursos de Biden, Powell e Yellen, com um viés expansionista baseados na perda do emprego e, por consequência, no consumo das famílias. Na Europa, a história não é diferente, principalmente na Zona do Euro, com o BCE (Banco Central Europeu) mantendo seu posicionamento dovish, em alinhamento com a política fiscal da maioria dos países do bloco. Um dos motivos que levam os países de primeiro mundo manterem as políticas de estímulo se deve ao risco percebido menor em relação a esses países. Pelo fato de tais países mostrarem maior sustentabilidade de suas dívidas por razões estruturais e conjunturais, há maior espaço para a permanência de seus gastos.

A diferença entre estes países e os em desenvolvimento pode ser evidenciada pelo prêmio pelo risco

Tais gastos feitos pelos países em desenvovlimento e desenvolvidos, contribuíram para que a queda no PIB não fosse tão profunda quanto ao esperado no começo da pandemia, mas tal mecanismo de política econômica pode ser negativo para países emergentes, uma vez que existe maior fragilidade fiscal, sendo uma alternativa apenas para países avançados.

O risco da política realizada pelos países avançados são de que, após a pandemia, os países ricos poderão crescer a taxas menores, tendo em vista o nível de endividamento criado para estimular a economia no curto prazo. Tais gastos feitos em 2020 e que tendem a continuar em 2021, será a continuação dos gostas realizados a partir de 2008.

Segundo o estudo de Ruchir Sharma chefe de estratégia global do Morgan Stanley publicado no Financial Times “Emerging nations are better equipped to survive the pandemic’s economic shock” entre 2008 e 2020 países emergentes gastaram cerca de 9%, saindo de 6%, do PIB considerando política monetária e fiscal, enquanto os países desenvolvidos tiveram gastos de que saíram de 10% para 33% do PIB durante o período. Durante a crise de 2008, segundo Ruchir, houve maiores gastos dos países emergentes, com reformas sendo postergadas, o que ocasionou um crescimento posterior menor e isso pode ocorrer com os países desenvolvidos ao fim da pandemia.

Emergentes e desenvolvidos adotam medidas diferentes contra a crise

Países em desenvolvimento

Como foi descrito acima, os países em desenvolvimento, apesar de realizarem gastos elevados durante 2020 e que podem se estender em 2021, eles possuem menor espaço para arcar com tais despesas o que evitará que uma política mais expansionista.

Logo, como contrapartida, para tentar aumentar o crescimento econômico e atrair investimentos, países como México, China, Chile, Egito e, até mesmo o Brasil, estão a buscar reformas e ajustes para tornar a economia mais produtiva e tentar balancear os gastos com contrapartidas fiscais para tentar manter o risco percebido equilibrado, o que pode fazer com que investimentos entrem em tais países e após a crise, os crescimentos seja, de certa forma sustentável.

A lógica para a contrapartida fiscal se baseia na ideia de que, os agentes econômicos olham para o futuro e, gastos governamentais podem implicar aumentos de impostos reduzindo o consumo, o fazendo com que o crescimento econômico esperado a posteriori não ocorra.

Equivalência Ricardo-Barro

A equivalência Ricardo-Barro, nada mais é o termo utilizado para a lógica descrita acima. A deia é que um agente econômico toma suas decisões levando em conta o fator tempo.

Logo para consumir ou não, as famílias levarão em conta os possíveis gastos futuros do governo. Tais gastos implicarão em maior tributação, gerando queda na renda disponível.

Assim, para evitar os efeitos do aumento na tributação no futuro sobre a renda, os agentes tendem a evitar o consumo presente, pensando na perda de renda disponível futura, de modo que os gastos do governo tenham impacto negativo sobre o consumo.

O resultado da hipótese da equivalência Ricardo-Barro é de que para que o a política fiscal realmente tenha efeito, é necessário que a diminuição dos impostos sem ser compensando com aumentos dos gastos do governo no curto prazo ou em um período posterior, de modo que a renda e o consumo do setor privado tenham aumento.

Um fator que fortalece a hipótese da equivalência ricardiana, é o fato de sociedade atual se preocupar com as gerações futuras, pois momentos com elevados gastos, podem gerar um ambiente econômico pior para a geração seguinte, algo que , inclusive foi comentado por Paulo Guedes na CMO (Comissão Mista do Orçamento do Congresso).

Assim, levando em conta a hipótese da equivalência ricardiana (ou Ricardo-Barro), faz sentido a premissa de possiblidade de crescimento para algumas economias emergentes tendo em vista o foco da política econômica que está sendo aplicada. Contudo, vale a pena considerar que a China, manterá suas políticas de investimentos, é o banco central do país já começar a retirar liquidez do mercado.

Quanto aos demais países, para que a política de contenção de gastos e reformas ocorram também é necessário que o processo de vacinação ocorra, pois a reabertura total da economia depende disso.

Em especial, o Brasil, precisa de maior coordenação política para o avanço da vacinação e para que as reformas ocorram de modo que o risco percebido em relação ao país diminua, contribuindo para um crescimento econômico sustentável.

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