Dólar a R$ 5 não baixa antes do segundo semestre de 2021, diz economista

Dólar a R$ 5 não baixa antes do segundo semestre de 2021, diz economista

O dólar está cotado acima de R$ 5 e, segundo a economista Nadja Heiderich, não deve baixar antes do segundo semestre de 2021.

Coordenadora do Núcleo de Estudos da Conjuntura Econômica da FECAP, Nadja elencou que a moeda norte-americana alcançou esse patamar há um bom tempo e não parece dar sinais de que diminuirá seu valor tão cedo.

Para a especialista, alguns motivos explicam a disparada da moeda do Tio Sam: incerteza com relação à economia brasileira, crise do coronavírus, teto de gastos públicos e a falta de reformas estruturantes no país fazem com que os investidores fujam do Brasil, aumentando a taxa de câmbio no mercado interno.

Agenda fiscal dos EUA faz dólar operar em queda

Dólar

De acordo com Nadja, é preciso entender o que faz o preço do dólar aumentar ou diminuir. “O valor é expresso por meio da taxa de câmbio, que nada mais é do que a taxa de troca entre duas moedas diferentes”, disse.

E acrescentou: “nós usamos o dólar como principal moeda para transações com o exterior. O mercado cambial é um mercado como outro qualquer, onde há a oferta e a demanda. Pela união entre oferta e demanda, a gente tem o valor dessa moeda, que é expresso pela taxa de câmbio.”

Oferta da moeda

Ela explica que quem oferta a moeda estrangeira são as instituições que trazem o dinheiro para o país. “Pode ser o investidor, o turista, ou o exportador brasileiro que vendeu lá fora e está recebendo em dólar. Todos os atores econômicos que têm recebimentos no exterior e trazem a moeda para cá”, destacou.

“Eles estão vindo para o Brasil e precisam trocar essa moeda estrangeira. Quem demanda dólar são todas as pessoas que têm obrigações no exterior que precisam trocar reais por dólar para tirar o recurso daqui. Uma pessoa que precisa pagar um empréstimo, o importador que precisa pagar em moeda estrangeira, ou o investidor que vai tirar recursos do país.”

Movimento do mercado

Conforme a especialista, é pelo movimento entre oferta e demanda que se tem o valor da moeda. Quanto mais pessoas precisam de moeda estrangeira e sai uma notícia (como medidas econômicas ou crises) que faz os investidores tirarem dinheiro do Brasil por medo do risco de perder investimentos, naturalmente a taxa de câmbio sobe. Por outro lado, se há fluxo mais constante de entrada de dólar no país, a taxa de câmbio baixa.

Vale ressaltar que o valor da moeda americana tem impacto diretamente sobre produtos importados. Outro aspecto é que o dólar aumenta o custo de serviços e da produção de empresas que dependem de insumos importados, afetando toda a cadeia econômica.

“Por outro lado, exportadores se beneficiam de taxa de câmbio ao vender seus produtos lá fora. No momento da conversão em reais, recebem mais pela produção. O produto nacional fica mais barato e competitivo lá fora, beneficiando certos setores exportadores aqui dentro”, disse.

Impacto

De acordo com Nadja, o ‘brasileiro comum’ vai se sentir afetado por conta de produtos importados que serão mais caros. Itens importados pelo Brasil, como a gasolina, também afetam vários preços. Pode haver repique da inflação, conforme o quanto esses itens representam no consumo dos brasileiros.

“Muita gente deve lembrar que há não muito tempo, o dólar chegou a valer pouco mais de R$ 2. O que mudou no cenário econômico para que a moeda saltasse para quase R$ 6 em pouco tempo?”, questionou.

E respondeu: “vários fatores contribuíram. A crise de 2015 derreteu as expectativas dos investidores com relação ao Brasil, causando uma saída de fluxo de capital muito grande. Além disso, a queda histórica da Taxa Selic (indicador que remunera os títulos públicos) afastou os investidores que vinham para cá aproveitar a taxa de juros, que era mais alta do que em outros mercados internacionais”, elencou.

E disse mais: “perde-se atratividade e o investidor foi procurar outros mercados. O fato de a Taxa Selic estar mais baixa agora, estruturalmente, mudou a taxa de câmbio. E a Selic não deve subir tão cedo. Outro fator de agora é a pandemia, que aumentou o risco dos investimentos. Os países que têm risco, como o Brasil, veem saída de recurso.”

O Brasil e as Reformas

Uma notícia boa em meio a esse cenário, disse, é que o mercado tem criado expectativas sobre as reformas que o Brasil precisa realizar, como a Administrativa e a Tributária, pontos sensíveis que o investidor espera avançar.

“O país precisa de mais solidez para pagar suas dívidas. Enquanto isso, não temos condição de oferecer retorno para determinados investimentos. A reforma da Previdência foi um sinal de que não iríamos quebrar em um curto horizonte, mas precisamos de outras reformas. Com a pandemia de Covid-19, o Governo gastou muito com o auxílio emergencial e outras medidas de estímulo à economia, e o teto de gastos é outro ponto sensível para a confiança dos investidores”.

você pode gostar também

Comentários estão fechados.