O deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE) gastou R$ 132.329,63 de cota parlamentar com serviços postais (Correios) no ano passado, em meio à crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus.
Em valores nominais, a cifra é a maior registrada desde 2016, quando a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) gastou R$ 136.665,47. Naquele mesmo ano, o então deputado federal Jair Bolsonaro (sem partido) havia usado R$ 97.724,70 com serviços postais.
Os dados, disponíveis no site da Câmara, foram analisados pelo (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles.
Ao Metrópoles, Patriota reconheceu o elevado gasto e disse que usa frequentemente o serviço dos Correios para divulgar e enviar livros de autoria própria, como o “Reforma da Previdência Social Não!” e uma seleção de artigos.
livro gonzaga patriota 1
Ele disse também enviar exemplares do código penal e da Constituição para estudantes no interior de Pernambuco. E se assustou ao saber que, segundo ele, os Correios estaria cobrando mais de R$ 60 por livro.
Não foi o primeiro ano, contudo, que o deputado destina boa parte da verba pública para a área. Em 2019, ele gastou outros R$ 83.124,49 nos Correios.
Adepto a pautas da esquerda, Gonzaga Patriota adiantou que, devido à alta cobrança feita pelos Correios, deverá mudar sua posição e se mostrar a favor da privatização da estatal. “Atendo centenas de pedidos por mês”, disse.
Após Gonzaga Patriota, os dois parlamentares que mais gastaram com serviços postais em 2020 foram Subtenente Gonzaga (PDT-MG), com R$ 107.532,70, e o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ), com R$ 80.469,82.
Juntos, os três deputados destinaram R$ 324.667,99 da cota parlamentar em serviços postais. O montante equivale a um quarto (25,4%) do total gasto em Correios por todos os parlamentares da Casa no ano passado, que foi de R$ 1,276 milhão.
O valor computado em 2020, no entanto, é inferior ao de 2019. Segundo o site da Câmara, foram gastos R$ 1,922 milhão ao longo do ano passado com o serviço do Sedex.
Os gastos registrados no ano passado, no entanto, podem mudar até final de março de 2021, uma vez que os parlamentares têm 90 dias contados a partir do gasto para apresentar nota fiscal e pedir ressarcimento.
Procurado, o deputado Subtenente Gonzaga, segundo no ranking, disse ter raciocinado bastante, no final do ano, para fazer a despesa.
Ele relatou ter impresso cerca de 100 mil informativos, cada um com 16 páginas, e os enviados via Correios a policiais militares, bombeiros e aposentados de Minas Gerais, reduto eleitoral do deputado, como uma forma de prestação de contas. Veja um exemplar, em arquivo PDF:
Jornal Gonzaga 2020 by Tácio Lorran on Scribd
“Confesso que raciocinei muito para fazer essa despesa no final do ano e mandei uma remessa desses informativos para os endereços dos militares. Entendi que seria importante”, justificou o subtenente, ao Metrópoles.
“Eu usei todas as ferramentas. Usei o e-mail – mas a base de dados de e-mail é muito defasada, menor do que a dos endereços – e rede social também”, complementa.
Por sua vez, o deputado Hélio Lopes, terceiro no ranking, esclareceu, por meio do chefe de gabinete dele, que o gasto se refere a, também, uma prestação de contas anual do mandato.
“[O deputado] economiza durante todo o ano, não gasta com publicidade, não gasta com pareceres externos, não tem contratado nenhuma firma para que possa mandar essa prestação de contas”, alegou o assessor parlamentar.
“No ano de 2020 foram 39 mil correspondências ao preço de R$ 2,05 cada”, disse. Confira o exemplar:
helio lopes folder 2
Questionado se o parlamentar poderia considerar realizar a prestação de contas em rede social, uma vez que é mais barata, o assessor disse que “quem deseja receber por e-mail recebe por e-mail, quem opta por correspondência recebe por correspondência, e ela sempre fica disponível nas redes sociais”.
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