A Rússia invadiu a Ucrânia (veja vídeos) nesta quinta-feira (24), avançando rapidamente para dentro do país. Mas o que a Rússia quer invadindo o seu vizinho? Uma anexação de território? Demonstração de força? Talvez. Aqui temos três motivos que fizeram a Rússia atacar a Ucrânia.
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Aproximação da OTAN
O principal deles, citado diversas vezes por Vladimir Putin, é a possibilidade da Ucrânia independente entrar na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar entre Estados Unidos, Canadá e países europeus. O presidente russo afirmou diversas vezes que a Ucrânia entrar na OTAN era uma “linha vermelha” que não deveria ser atravessada. A OTAN havia sido criada para combater a União Soviética, e que, com o fim do império comunista, virou suas atenções contra a Rússia.
Embora as conversas tenham começado em 2008, o atual governo ucraniano fez algumas sinalizações em direção a entrar na OTAN, o que aumentou a agressividade russa. Parte da população ucraniana gostaria de entrar na OTAN e na União Europeia, o que a Rússia também rejeita. Embora existam países da União Europeia que não façam parte da aliança militar, o que vai acontecer se um deles for atacado? Essa é uma linha desconhecida que Putin não gostaria de testar.
A OTAN já faz fronteira com a Rússia – os três países bálticos, ex-soviéticos, Lituânia, Letônia e Estônia fazem parte da aliança -, mas são pequenos e entraram anos atrás, se aproveitando da crise russa no começo do século. Belarus – que é tratada pelos russos como um estado-cliente – e Ucrânia possuem territórios maiores e podem ser usados como plataforma de ataque aos principais centros populacionais russos, como Moscou e São Petesburgo. A Finlândia, que também faz fronteira com a Rússia, não está na aliança – e é possível que Putin também reagisse violentamente se ela se aproximasse da organização.
A “neutralidade” ucraniana é uma condição de segurança para os russos frente à Otan. Uma anexação do país inteiro colocaria as fronteiras russas mais próximos ainda da OTAN, já que Ucrânia faz divisa com Polônia, Eslováquia, Romênia e Hungria. É possível, porém, que o governo de Putin não anexe a parte ocidental do território ucraniano, criando uma espécie de estado tampão entre a Otan e a Rússia. Se os russos resolverem continuar na Ucrânia após a captura, porém, novos problemas vão surgir.
Proximidade cultural e população russa
Se Putin for anexar apenas uma região da Ucrânia, será o leste, as repúblicas populares de Donetsk e Luhansk, que declararam independência. Ali, o idioma falado mais comum não é o ucraniano – e sim, o russo. A Rússia vê a Ucrânia como uma espécie de “irmão de alma” por conta da cultura e história divididas em comum. A identidade eslava que evoluiu para a identidade russa nasceu em Kiev, capital do primeiro estado “russo” da história, a Rússia de Kiev.
A Ucrânia era uma república soviética antes de 1991, tendo sido berço de dois de seus maiores líderes Nikita Khruschev e Leonid Brezhnev. A população era muito próxima, muito comum ver pessoas com um pai russo e uma mãe ucraniana (e vice-versa). Em períodos soviéticos, a Ucrânia era parte integral da noção de nação: o Dynamo Kiev era a maior potência de futebol juntamente com o Spartak Moscou, e a seleção chegou a ter muitos jogadores nascidos na Ucrânia.
Essa união, tão próxima quanto Rio e São Paulo, acabou com o fim da União Soviética, com a independência das repúblicas que compunham o império comunista. Putin alega que as fronteiras do país foram “arbitrariamente decididas por Vladimir Lenin”, e que antes do fim da União Soviética, a Ucrânia nunca havia sido independente. Isso é uma meia verdade: a Ucrânia como conhecemos realmente nunca existiu antes do fim da URSS, mas a identidade ucraniana é antiga. O país fora dividido várias vezes entre os países da região, Rússia, Polônia-Lituânia e o império Austríaco.
A parte oriental do país, que declarou independência, viveu séculos sob domínio do império Russo. A parte ocidental mudou de mãos várias vezes, e há uma desconfiança generalizada dos russos nesta região, como há em outros países da região. A questão sobre entrar ou não na Otan e na União Europeia sempre dividiu essas duas partes: a parte ocidental é favorável, a oriental é contra e prefere uma união com a Rússia.
Em conflito desde 2014 (com os russos ajudando e fingindo que não ajuda), a parte leste da Ucrânia é o centro do conflito. Putin afirmou reconhecer a independência de ambas as repúblicas separatistas “no território que elas mesmas decidiram”, o que inclui uma boa parte que está sob domínio do exército ucraniano no momento.
Putin já havia anexado a Crimeia em 2014 contra a lei internacional, que fez com que o país sofresse sanções naquela época. A região era de maioria de população russa e tinha sido transferida na década de 50 entre a República Soviética Russa e a República Soviética Ucraniana (o que não queria dizer nada, já que ambas constituíam o mesmo país), o que “justificava” a ação, muito embora o governo russo já tinha aceitado a soberania ucraniana na Crimeia em acordos anteriores.
Demonstração de força
E o terceiro grande motivo aparente para o ataque russo é uma clara demonstração de força do exército, que é uma das maiores forças militares do mundo e herdeira do poderio soviético. A Rússia é o país com a maior quantidade de armas nucleares do mundo e, com a Otan próxima de sua porta, Putin quer dar uma demonstração de força para o ocidente – e uma tomada rápida da Ucrânia cumpre esse objetivo. Com os tanques do exército russo descendo as antigas estradas soviéticas em direção à Kiev e a força aérea capture aeroportos próximo da cidade, pode ser que a tomada da capital aconteça rapidamente, cumprindo o objetivo de Putin.
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