Mercado de capitais: a primeira semana do ano de 2021

Matheus Jaconeli de Oliveira é economista e integra o time da Nova Futura Investimentos

Após um ano muito difícil e cheio de incertezas, criou-se grande expectativa para 2021, em especial no mercado de capitais. A esperança em relação ao fim da pandemia por conta dos imunizantes trouxe otimismo aos setores produtivos. Entretanto,, é preciso levar em conta os riscos e problemas do ano e alguns já começam a ser evidenciados logo na primeira semana.

Mercado de capitais: a primeira semana do ano de 2021

Semana de rali no mercado de capitais

A semana foi de alta para os mercados globais, as expectativas em torno da recuperação econômica global acompanhada de uma enxurrada de estímulos econômicos nos Estados Unidos. Tais perspectivas ficaram ainda mais possíveis de serem realizadas com dois eventos muito importantes que ocorreram nos primeiros dias do ano, a posse de Joe Biden e o segundo turno das eleições para duas cadeiras em disputa no para o Senado. O resultado foi positivo para os mercados globais, tendo em vista que com o domínio das três casas, Casa Branca, Senado e Câmara, não haverá entraves para os estímulos propostos por Joe Biden.

Assim, os mercados globais operaram em alta, principalmente os mercados emergentes, tendo em vista que a expectativa dos estímulos tira a pressão do dólar devido ao aumento das perspectivas de crescimento global que melhoram com os estímulos, fazendo os gentes econômicos migrassem para mercados que possam gerar maiores ganhos. Como no início da pandemia, o foco foi em ações de companhias do setor de tecnologia, agora, com os estímulos e as notícias de vacinas, os investidores continuaram a direcionar seus recursos para os mercados intensivos em commodities e outros ativos tradicionais, como é o caso do setor bancário e industrial. Assim, as bolsas de mercados como o México, Chile e, até mesmo, nos Estados Unidos, no que diz respeito ao Dow Jones.

Mercado de capitais: Brasil

Apesar das altas registradas na bolsa brasileira, o dólar e as taxas de juros absorveram os riscos internos. Tais riscos também foram considerados pelos investidores internacionais, fazendo com que outros mercados emergentes com características próximas com a da economia brasileira, tiveram maiores altas quando comparadas com a bolsa brasileira e isso acontece exatamente por conta das questões internas. Ao longo da semana, apesar de todas as reuniões feitas pelo governo federal, juntamente com o ministério da saúde, trazendo notícias que poderiam ser positivas para o mercado como a compra de vacinas, seringas e outros materiais necessários para a aplicação da vacina. Contudo, o Brasil ainda não tem um plano de vacinação o que gera receio ao mercado, tendo em vista que o número de infectados está subindo o que pode fazer os governadores tomarem novas medidas de distanciamento social, o que gerará a necessidade de permanência ou aumento do auxílio emergencial, piorando as expectativas em relação às contas públicas.

Mercado de capitais: a primeira semana do ano de 2021

Entre os países emergentes, ao comparar o dólar com suas respectivas moedas, o real está com um desempenho melhor somente em relação ao rande sul-africano, perdendo para moedas como rublo, peso mexicano e lira turca.

Assim, a recente alta da bolsa, que ocorreu ao longo da primeira semana do ano está muito mais relacionada ao ciclo externo e ao movimento de mercado focado em ativos relacionados aos estímulos externos, preços internacionais das commodities e crescimento econômico da China.

Mercado de capitais: a primeira semana do ano de 2021

Como é possível ver na tabela acima, dentre as companhias que tiveram as maiores altas no ano de 2020, oito estão relacionadas ao ciclo externo.

Mercado de capitais: riscos

Apesar de todo otimismo no que diz respeito ao processo de vacinação da população, as expectativas de estímulos nas economias desenvolvidas e o crescimento econômico da China, ainda há fatores de risco que devem ser levados em consideração na arena política e econômica, fora e dentro do Brasil.

Internamente, já foi comentado o problema em relação às contas públicas e os ruídos políticos em relação à gestão da pandemia. Todavia, se por um lado a eleição de Biden contribui para a alta de mercados emergentes como o Brasil, o viés do democrata é bem diferente do presidente Jair Bolsonaro no que diz respeito à política internacional e, principalmente, quanto ao meio ambiente. Na administração Trump, Jair Bolsonaro tinha muito mais suporte quanto assuntos internacionais e não recebia pressão quanto a assuntos inerentes à questão ambiental, mas Biden, como afirmou em um debate, falou em “reunir o mundo” contra o Brasil, caso o presidente da república não mudasse sua política ambiental no que diz respeito à Floresta Amazônica. Independentemente da opinião de quem observa tal argumento, o fato é que com Biden na frente da maior economia do mundo, Jair Bolsonaro perde um aliado importante e todas as críticas feitas a partir da União Europeia, ganham força com a eleição do democrata. Se Bolsonaro e seu governo não evidenciarem que estão de acordo com exigências dos governos europeu e americano, o país pode sofrer consequências econômicas e políticas, como a perda de acordos comerciais e até mesmo isolamento internacional, apesar de não haver a perspectiva de uma medida tão agressiva como um embargo econômico.

Mercado de capitais: mundo

Externamente, as questões envolvendo a China, ainda ficam no radar. Há a expectativa de que as tensões entre Washington e Pequim continuem, apesar de se esperar um tom mais ameno por parte de Biden quando comparado com a postura de Donald Trump com os chineses. As investidas da China contra os direitos humanos em Taiwan e Hong Kong podem gerar pressões por parte do ocidente, apesar dos acordos comerciais que estão sendo costurados pelo gigante asiático com a União Europeia e com os países asiáticos. As tensões no Oriente Médio é um outro fator que deve ser levado em conta, haja vista que o Irã já começa o ano com ameaças aos Estados Unidos, apesar de Biden já sinalizar que terá o mesmo tratamento de Obama com o país do Golfo Pérsico em relação ao enriquecimento de urânio.

Nos Estados Unidos, além Joe Biden ter de lidar com a situação externa, os americanos sem mostram mais divididos como nunca. Os episódios no Capitólio no dia de sua posse, foi uma evidência da convulsão política e social na qual a maior democracia do mundo está. Assim, o novo presidente, para ter um governo com apoio popular, terá de equilibrar as políticas e o discurso, de modo que consiga animar os ânimos de parte da população que se encontra no espectro político e ideológico diametralmente oposto ao seu, retomando a coesão da sociedade americana.

Por fim, mas não menos importante, os países terão de correr com o processo de vacinação. A COVID-19 continua a avançar, novos focos foram encontrados até mesmo em países como Japão e China, e novas cepas do vírus com maior grau contaminação podem fazer com que o aumento no número de casos saia do controle de alguns países. A economia de várias nações não suportaria um novo lockdown, logo é necessário eficiência na condução da gestão da crise sanitária.

Assim, apesar de todas as esperanças depositadas em 2021, após um ano muito difícil, há muitos desafios com os quais o mundo lidará, exigindo muita cautela e sabedoria não só de governantes, mas também de cada indivíduo.

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