Quando se trata de cartão de crédito, a maioria das pessoas acredita que se trata de um vilão das finanças. O sentimento é justificado, afinal de contas, no cenário brasileiro, a maior parte dos endividados encontrou no instrumento de pagamentos uma ferramenta poderosa para consumir além do que poderia e, naturalmente, entrar no vermelho.
Para Thiago Martello, educador financeiro e fundador da Martello EF, é preciso olhar para a situação de uma outra forma. “O cartão de crédito pode ser, sim, muito perigoso, mas é uma faca de dois gumes: pode ser altamente destrutivo, mas também a melhor ferramenta de controle de crédito que existe”, explica.
O especialista compara o poder do cartão ao poder de um avião. “Um avião é rápido e seguro, mas já foi muito utilizado em guerras para potencializar o efeito destrutivo. Ou seja, tudo na vida pode ser bom ou ruim, a responsabilidade de fazer com que uma ferramenta exerça uma função positiva ou negativa é sempre nossa”, diz. “Também é como uma arma de fogo, que pode ser usada para matar alguém ou como instrumento na prática de um esporte olímpico que exige muita concentração”.
Martello explica que o cartão de crédito foi criado para ser um facilitador de pagamentos, já que no lugar de ser necessário andar com um bolo de dinheiro, as pessoas poderiam carregar um pedaço de plástico. “O problema é que o uso foi deturpado e ele virou um produto de crédito. Com ele, as pessoas podem ter acesso antecipado a coisas que não poderiam ter no momento. Elas usam dinheiro do banco, aí no meio do caminho algo acontece, deixam de pagar a fatura e as dívidas viram uma bola de neve”.
Os altos limites oferecidos pelos bancos são, na opinião do educador, o grande problema no uso do cartão. “Normalmente a pessoa recebe um salário de R$ 5 mil e tem um limite de R$ 10 mil, R$ 15 mil, R$ 20 mil. Não é óbvio que não faz sentido? Existe uma argumentação de que a pessoa vai precisar de crédito se quiser comprar uma coisa mais cara, mas o que acontece é que esse limite acaba sendo usado no dia a dia, sem qualquer consciência. O limite tem que ser adequado, até porque comprar parcelado é uma anomalia brasileira. O que a pessoa precisa é construir uma reserva de emergência para poder usar caso algo aconteça, não usar o cartão do banco”, afirma.
A parte positiva do cartão de crédito, de acordo com Martello, é que o uso consciente faz com que ele seja uma ferramenta de controle ideal. “Não é necessário anotar nada em lugar nenhum e, no final de um período, ele entrega exatamente, em detalhes, para onde foi cada centavo do dinheiro. E ainda há uma inteligência colocada. Alguns aplicativos de cartões mostram em gráficos para onde está indo o dinheiro.”
Martello reforça que o cartão de crédito é um ser inanimado. Ou seja, não tem vontade própria. “Quem faz mal uso dele são as pessoas. Claro que instigadas pela mídia, pelo sentimento de “Eu mereço”, por uma vontade de pertencimento ou fuga ou, ainda, pela facilidade de crédito, entre vários outros fatores. Mas precisamos lembrar que o cartão pode ser vilão ou mocinho. Cada um determina como ele vai agir na vida, se vai ajudar ou vai levar para um buraco financeiro.”
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