Minerado nesta madrugada de quinta-feira (6) pela MARA pool, uma mineradora dos Estados Unidos, o bloco 682.170 registrou uma mensagem curiosa. “OFAC Compliant Block” estava escrito no bloco indicando que a mineradora está seguindo as regras de KYC e AML da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA.
Usando um block explorer, é possível notar que há uma quantidade muito baixa de transações neste bloco, apenas 178 enquanto blocos de outras pools de mineração costumam confirmar mais de duas mil transações. Mesmo assim, o bloco apresentou um tamanho enorme de 2,32 megabytes, o que provavelmente indica que se tratavam de conjuntas de grandes exchanges, que costumam transmitir transações em lotes enormes.
A mensagem no bloco 682.170 foi percebida pelo pesquisador de pseudônimo 0xB10C no Twitter e compartilhada por Aaron van Wirdum, redator na BitcoinMagazine, que chamou a atitude de um “ataque à fungibilidade do Bitcoin”.
A fungibilidade remete a igualdade de valor entre todas as moedas da rede, que é prejudicada por conta da transparência do blockchain, já que cada bitcoin possui um histórico diferente e portanto pode ser tratado de forma diferente.
A escolha por parte de uma pool de mineração, sob a vigilância de um órgão estatal, de não confirmar certas transações enquanto valida outras (que passaram por KYC de exchanges) denota isso. Dessa forma, a comunidade discute soluções.
Desenvolvedores, mineradores e usuários reagem negativamente
Foram diversas as reações negativas, incluindo a do desenvolvedor do Bitcoin John Newbery, que tuitou um emoji de nojo. O CEO da Blockstream, Adam Back, também comentou o fato discutindo soluções para o problema, mas sugere que a teoria dos jogos resolveria o problema por si só.
Para o ex-desenvolvedor do Bitcoin Matt Corallo, evitar a reutilização de endereços seria uma das únicas medidas que os usuários poderiam tomar para evitar problemas nesse caso específico. O próprio criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, deu esse conselho para os usuários melhorarem seu nível de privacidade na rede.
Um minerador de bitcoin que comentou o tweet disse que estava decidido a tirar seu hashrate dedicado a essa pool e direcioná-lo para a Slush Pool. Se a maioria dos mineradores tomarem uma decisão similar, o problema da censura de transações é amenizado ainda mais.
O bloco foi tão polêmico que, segundo a BitMex Research, nem mesmo deu sinal verde para o Taproot, atualização muito aguardada pelos bitcoiners que deve aumentar a privacidade das transações e melhorar a escalabilidade do Bitcoin.
Valeu a pena minerar um bloco “censurado”?
Vale notar que, enquanto outras pools de mineração não seguem essa mesma condição da MARA pool, as transações que não são consideradas “limpas” podem ser confirmadas por outros mineradores.
O incentivo econômico, na verdade, é justamente para não censurar transações. Conforme checagem do Cointimes, os blocos 682.169 e 682.171 receberam cerca de 0,31 BTC apenas por taxas de transações, enquanto o “bloco limpo” 682.170 ganhou apenas 0,05 BTC de taxas. O cumprimento dos requisitos da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA custou a mineradora, levando em conta a cotação atual, cerca de US$ 15.000.
A MARA é uma pool criada pelo grupo Marathon Patent Group, empresa que fechou o ano de 2020 com US$ 217 milhões em caixa e vem expandindo suas operações nos Estados Unidos. A empresa chegou a comprar a mineradora brasileira FastBlock por US$30 milhões há 8 meses e esperava ter no começo do ano com 7,6% do hashrate da rede.
Veja também: Mineradora de bitcoin começará a censurar transações pela primeira vez na história
*O post apareceu primeior em Cointimes e foi reproduzido com autorização.