Setor de tecnologia é mais resiliente às crises? Descubra tudo com quem entende do assunto

A pandemia ainda não tinha terminado, mas conforme a vacinação global avançava, víamos o mundo caminhando para um novo padrão de normalidade, se assim podíamos dizer. Embora novos casos de Covid ainda insistissem aparecer na China, ao que tudo indicava, os principais gargalos na cadeia produtiva global estavam gradualmente sendo sanados. Mas então surgiu uma nova guerra, desta vez armada, trazendo consigo os mesmos entraves, ou ainda piores, não só em termos econômicos, mas principalmente humanitários.

Parece história de filme, mas é apenas um retrato da nossa realidade atual. O cenário é desafiador. Do ponto de vista econômico, vemos a inflação novamente preocupando os Bancos Centrais ao redor do globo, especialmente em função de choques de oferta. Por outro lado, o consumo segue forte, não só em virtude de uma demanda represada ao longo da pandemia, mas também por todos os incentivos concedidos no mesmo período.

Se por um lado a demanda mais aquecida tende a beneficiar os setores ligados ao consumo, por outro lado tem promovido arrochos de política monetária nas principais economias do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o FED vem demonstrando cada vez menos afinidade com a tese de inflação transitória. Em seu lugar assume a tese de uma inflação mais resistentes, cujos desdobramentos via retirada de estímulos fiscais e de aumento de juros acabam por afetar as demais economias do mundo.

Curiosamente, empresas ligadas ao setor de tecnologia, por exemplo, têm demonstrado certa resiliência neste período de crise, especialmente em função da solidez e governança que as acompanham ao longo de anos.

De modo geral, todo este cenário tem tornado o dia a dia de nossos gestores cada vez mais desafiador. Desafio igualmente grande é manter nossos leitores bem-informados neste mar de notícias que se tornou a internet. É cada vez mais importante saber por onde navegar.

Fazendo jus ao nosso mandato de trazer os melhores gestores do mercado para compartilharem suas perspectivas para os próximos meses, convidamos uma grande parceira do Modalmais, a gestora Parcitas Investimentos, para participar do nosso último Cara a Cara com o Gestor, programa que vai ao ar toda quarta-feira no canal do Modalmais no Youtube (Inscreva-se aqui Modal – YouTube).

Fundada por Marcelo Ferman, a Parcitas é uma gestora independente focada em fundos multimercado e cujo processo de investimento prioriza a análise fundamentalista. Pode-se dizer que a resiliência é característica principal da gestora, que busca retornos de longo prazo focando nas melhores oportunidades de alocação, seja no Brasil ou no exterior.

Incumbidos da missão de responderem perguntas tão desafiadoras quanto o cenário atual, os gestores Thomaz Callado e Bruno Leite, juntamente à RI Marcela Maciel, passaram um panorama completo e imperdível sobre a conjuntura macroeconômica e como isso alcança o Parcitas Hedge, fundo que acumula retorno de 30,23% desde seu lançamento (jan/19), equivalente a 184% do CDI, mesmo em um contexto tão desafiador. Ao final, e para fazerem jus à expertise Do Macro ao Micro, apresentaram os 3 principais cases de tech em sua carteira: Amazon, Google e Constellation.

 

Top Down
Como a Parcitas avalia este movimento de inflação global e qual expectativa em relação ao juros global?
Thomaz: o mundo já vinha em num movimento de inflação alta desde o ano passado, onde os Bancos Centrais questionavam quão temporário seria a escalada dos preços. Com o passar do tempo a inflação não cedeu e a tese de inflação temporária foi perdendo cada vez mais espaço.

A inflação atual possui dois vetores: uma demanda muito forte, em particular por bens de consumo e uma oferta com dois novos gargalos: guerra entre Rússia e Ucrânia, que afeta especialmente setores de energia e de insumos (grãos), e também o lock down na China.

De modo geral já existia um cenário de gargalos de oferta com expectativa de melhora, que acabou sendo interrompido pelos dois novos choques. Neste contexto, é difícil vislumbrar melhora para o curto prazo. O Fed tardiamente resolveu adotar a postura de combate à inflação mediante a retirada dos estímulos, visto que mesmo com inflação alta no final do passado seguiam injetando estímulos fiscais. Este tem sido o grande tema que permeia o debate macro atual.

Falando em Brasil, embora estejamos convivendo com pressões inflacionárias, o BC começou o combate bem antes, então é provável que estejamos no final do ciclo. Isto, contudo, não significa que a inflação esteja controlada, pois há componentes inflacionários ainda grandes: de commodities, bens de consumo e gargalos de oferta.

Taxa de juros Brasil
Thomaz: não estamos convictos da sinalização do BC de parar o aumento já na próxima reunião. Acreditamos que as elevações sigam pro mais duas reuniões. Motivos:

1. Cenário inflacionário bastante pressionado ainda pelos próximos 3 meses;

2. Expectativas seguem desancoradas. Para este ano quanto para 2023, tanto economistas quanto mercado per se seguem revisando expectativas pra cima, via títulos indexados à inflação de 6%, enquanto a meta é 3%.

Posições:
1. Comprado em curva de juros americana, mas também juros brasil (posições reduzidas): apostam na subida dos juros;
“Nos EUA a inflação está apenas começando, então parece fazer mais sentido ficar tomado em juros lá fora do que no Brasil, que já realizou boa parte do ajuste.” Thomaz

2. A combinação juros Brasil mais elevados + valorização de commodities tende a tornar a moeda brasileira mais interessante, por isso temos posição tomada em moeda brasileira e vendida em dólar.

Bottom-up
Victor: o cenário global é de demanda mais aquecida por conta dos diversos incentivos dados. A taxa de juros baixa favorece setores de consumo, por outro lado a subida pode afetar seus valuations. Como que ainda assim seguem apostando em empresas como a Amazon (e outras de tecnologia)?

Bruno/ Marcela:
Nossa principal aposta hoje está na bolsa americana e entre as principais investidas temos Amazon, Constellation Software e Google.

As ações da Amazon, assim como as da Google, estão com um preço mais atrativo do que parece à primeira vista, quando se olha a holding como um todo. Ao separar as áreas de atuação da empresa, vemos um negócio de varejo que vai muito bem, um serviço de cloud que é líder mundialmente e um business de advertising que deve valer metade do Facebook em alguns anos. Acreditamos em um retorno bem positivo para o papel e não nos surpreenderia se o seu valor dobrasse em três ou quatro anos. É uma aposta muito assimétrica. Soma-se a tudo isso o fato de a Amazon abrigar uma fábrica de startups internamente, um potencial que não pode ser desprezado – o AWS, serviço de nuvem da companhia, já vale mais de meio trilhão de dólares, por exemplo. Por isso, essa é hoje a maior posição de equities da Parcitas.

Alphabet (Google) é nossa terceira maior posição. O preço da ação já é atrativo quando olhamos a empresa como um todo: seu valor total (entreprise value) está hoje em cerca de 20 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses. Mas ao analisarmos os negócios individuais, o investimento parece ainda mais oportuno, pois algumas áreas muito valiosas ainda não geram lucro, como o Google Cloud e o Self Driving Car. Outro ponto de destaque é que as diversas empresas da Cia não competem entre si. O fato de você estar usando o Gmail, não te impede de utilizar o Waze, por exemplo. Isto não é verdade quando pensamos em uma Starbucks, por exemplo, que ao consumir um tipo um frapuccino de caramelo, dificilmente irei consumir o de chocolate ao mesmo tempo.

Além disso, não há muita ameaça competitiva no principal mercado de atuação da companhia, que é o de buscas e anúncios online. A Microsoft, por exemplo, já tentou competir com o Google via Bing e não conseguiu tornar-se relevante. Já a Apple, tem um acordo com o Google, que a paga para ser o buscador do Iphone.

Outro case que gostamos muito é o da Constellation Software, empresa canadense. A companhia faz fusões e aquisições de pequenas empresas de software constantemente há mais de 20 anos, visando o longo prazo. O caixa gerado pelos negócios do portfólio é sempre reinvestido na compra de novos. Na teoria é algo muito simples de se fazer, mas muito difícil na prática. Poucos players no mercado conseguem comprar operações pequenas e lucrativas em escala e com eficiência – prova disso é que nenhuma outra empresa no mundo conseguiu replicar esse modelo. Admiramos muito o CEO da Constellation, Mark Leonard. Gostamos muito das cartas que Leonard escreve aos seus stakeholders, nas quais mostra seu comportamento íntegro e alinhado à mesma filosofia que prega aos funcionários, clientes e acionistas.

Charlie Munger diz que “a primeira regra sobre pescaria é pescar onde tem peixe”. Seguimos essa premissa e, por isso, somos multimercado de verdade.” Parcitas.

Assista na íntegra
Invista: Banco Digital modalmais | Parcitas Hedge FIC FIM

 

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