O ano de 2020 foi péssimo para o setor de turismo. Com a pandemia de Covid-19 cidades inteiras fecharam suas barreiras, voos foram cancelados e remarcados.
A afirmação é de Marcelo Linhares, CEO da Onfly, para quem a principal empresa de turismo de capital aberto na B3, a CVC, viu seu valor de mercado cair mais de 50%, e companhias aéreas como Azul e GOL, também listadas na B3, caíram em média 35%, depois de quase 85% de queda no auge, em março de 2020.
“A retomada do setor está sendo gradual, curiosamente as viagens a lazer retornaram mais rápido, enquanto as empresas ainda enxergam muito risco em colocar os colaboradores em viagens”, disse ele.
E acrescentou: “entretanto, já dá para prever que as empresas que estão saindo mais fortes da pandemia são essencialmente as de tecnologia que atuam no setor de turismo e que podem aproveitar a euforia do mercado e abrir capital ainda em 2021, seguindo a boa fase das empresas de tecnologia que abriram capital recentemente, como Enjoei, Meliuz, Mosaico e Locaweb, e do Airbnb, empresa de compartilhamento de quartos, que abriu capital em dezembro do ano passado em NASDAQ e já valorizou 47% em pouco mais de dois meses.”
Turismo: mercado brasileiro
Para Linhares, é importante ressaltar que nunca o mercado brasileiro esteve tão otimista com empresas de tecnologia, portanto, empresas do setor de turismo que desejam algum sucesso no mercado de capitais precisam contar uma história muito mais de “tech” do que de turismo, essencialmente.
Conheça as empresas:
- 123Milhas
A 123Milhas é a principal aposta do setor, com investimento massivo em mídia, tanto on-line, quanto off-line em TVs e, principalmente, mídia aeroportuária (eles estão com ações em mais de 25 aeroportos do Brasil). Segundo a SimilarWeb, o tráfego da 123Milhas já se aproxima da Decolar, empresa que em 2019 realizou entre R$ 7 a R$ 9B em reservas apenas no Brasil.
A favor da 123Milhas, pesa uma excelente reputação do Reclame AQUI, um aumento de inventário – agora a companhia está distribuindo, além de passagens aéreas, também hotéis, seguros e carros – e o fato da empresa não ter demitido ninguém na pandemia, pelo contrário, contratou novas pessoas, inclusive, o novo VP de gestão da companhia é ex-CEO da BH Airport, sinalizando que a empresa está investindo no amadurecimento de sua gestão para uma eventual abertura de capital.
Estima-se que a 123Milhas chegue ao final de 2021 com um volume de vendas aproximado de R$ 3B, com um take rate médio de 16%, o que daria para a empresa uma receita aproximada de R$ 480 milhões.
Para fins de comparação, no ano que antecedeu o IPO (Initial Public Offering – oferta pública inicial) da Enjoei, em 2019, a empresa apresentou uma receita de R$ 53 milhões.
Em termos de tamanho e porte, a 123Milhas talvez seja a empresa mais preparada para realizar o IPO, resta saber se os atuais acionistas entendem se agora é o momento para fazer este movimento ou se vale a pena crescer ainda mais e abrir capital em 2022.
- Hurb
O Hurb pode ser a empresa que esteja mais sendo “pressionada” a fazer um IPO, isto porque a empresa passou por um grande conflito entre os investidores e os fundadores entre 2015 e 2017 e, no acordo firmado, os investidores ficam com 30% de todo o valor de uma eventual venda ou IPO da empresa até 2024.
Em 2020, mesmo o ano sendo muito ruim para o turismo, segundo dados publicados no próprio LinkedIn da empresa, embora não auditados, a empresa fez R$ 1,9B em reservas (gross booking volume), entre hotéis e pacotes turísticos, principalmente.
A empresa também contratou mais pessoas em 2020, continua acelerando seu projeto de internacionalização e já está com 723 pessoas no time (e com vagas abertas).
- MaxMilhas
A MaxMilhas foi a primeira OTA (Online Travel Agency) do mercado a fomentar fortemente compra e venda de passagens aéreas com milhas e ainda é uma das maiores do mercado.
Estima-se que a empresa mineira deve realizar em 2021 algo próximo de R$ 1,5B com um take rate médio de 20%.
A MaxMilhas deve se beneficiar de um consumidor muito mais digital pós-pandemia e de uma retomada muito mais rápida para destinos domésticos, nicho em que a companhia sempre foi mais forte.
O que pesa contra a empresa mineira é a desconfiança de eventuais investidores sobre a perpetuidade do modelo de passagens aéreas com milhas, que publicamente as companhias aéreas tentam acabar.
Por outro lado, a empresa pode otimizar todo seu tráfego para oferecer outros conteúdos, como hotéis, carros, pacotes e seguros, muito na linha do que a 123Milhas está fazendo.
- ViajaNet
Por ter recebido uma série de investimentos de capital de risco, ainda no início da operação, a ViajaNet, uma das primeiras OTAs do Brasil, talvez seja a companhia que esteja mais “apta” para um IPO, pensando na parte de governança tributária e contábil.
Em 2019 a empresa anunciou R$ 1,1B em volume de reservas e publicamente já informou que atingiu o breakeven (equilíbrio entre despesas e receitas).
No ano passado, especificamente em dezembro, por conta da pandemia, a empresa anunciou uma nova captação de $ 6,5M dos investidores atuais para recomposição de caixa, e no total a empresa já captou, segundo a Crunchbase, aproximadamente U$ 25M.
Dependendo de como a empresa se comportar nos primeiros nove meses do ano, ela pode ainda protocolar o pedido de IPO na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) este ano, sobretudo, apoiado na grande euforia dos investidores em empresas de tecnologia.
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