O Banco Central (BC) está tranquilo com relação à inflação, disse o presidente da instituição, Roberto Campos Neto nesta quinta-feira (24).
Ele apresentou o Relatório de Inflação e a projeção do BC é que o indicador termine este ano em 2,1%. Para 2021, as projeções estão em torno de 3%.
Se a estimativa se confirmar, a inflação em 2020 ficará abaixo da meta que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 4%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,5% e o superior, 5,5%.
Alimentos
Para Campos Neto, os preços dos alimentos em alta recente tendem a se estabilizar e a inflação deve ficar sob controle.
“O Banco Central tem situação de absoluta tranquilidade em relação à inflação. Existem efeitos provenientes das subidas de preços de commodities e o efeito do pagamento do auxílio emergencial. Também mostramos relação do IPA [Índice de Preços ao Produtor Amplo] e do IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] e possível contaminação. A mensagem geral é que estamos tranquilos e entendemos que existia uma pressão em 2020, mas não entendemos que esses reajustes recentes vão contaminar as inflações futuras”, disse Campos Neto.
Taxa
Ao comentar a possível taxa de inflação abaixo da meta, Campos Neto disse que o BC considera como “horizonte relevante” ao definir a taxa básica de juros, a Selic. Para Campos Neto, a atuação recente do BC mira a inflação em 2021.
Ele lembrou que na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por definir a Selic, o BC destacou que o espaço atual para reduzir os juros é “pequeno ou nulo”.
Já o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, enfatizou que o BC segue com o “procedimento usual” no trabalho de controle da inflação. “O horizonte relevante agora é 2021 e em menor grau, 2022. Não é 2020. Se a gente tentar fazer algo para 2020, a gente vai criar um erro adiante. Então, a gente segue com o procedimento usual”, afirmou Kanczuk.
Controle fiscal
Questionado sobre o compromisso do BC de não elevar os juros condicionado à manutenção do atual regime fiscal, Campos Neto disse que não se pode correr riscos nessa área. “Não estamos dispostos a correr riscos inflacionários oriundos de questões fiscais. Não podemos trabalhar com suposições. Eu acho que foi bem delineado o que queríamos dizer com isso”, disse.
Investimentos estrangeiros
Campos Neto disse que a saída de investimentos estrangeiros em renda fixa é explicada pela redução dos juros no país. “À medida que os juros vão reduzindo no Brasil e existe uma percepção que o risco aumentou por um tema fiscal ou pela própria crise que a pandemia geral, há saída de renda fixa. Parte disso está explicada pelo menor retorno que o foi o processo de queda de juros”, disse.
O presidente do BC lembrou que houve também saída de investimentos em ações. “A gente vem descrevendo esse processo, que foi mais do que equilibrado pela de entrada dos [investidores] locais”, afirmou. Segundo ele, há uma retomada desses investimentos em países emergentes, mas o “Brasil tem recebido dessa retomada uma parcela menor do que saiu”.
Em relação aos investimentos diretos no país (IDP), os que vão para o setor produtivo, Campos Neto afirmou que deverá haver redução da entrada de recursos por influência da crise gerada pela pandemia. “Em anos de grande crise tende a ter uma queda do IDP”, lembrou, acrescentando que também houve redução do IDP em 2009, ano de crise. Mas disse que deve haver retomada desses recursos nos próximos anos.
Para este ano, o BC reduziu a projeção para o IDP de US$ 55 bilhões para US$ 50 bilhões. Em 2021, o BC espera recuperação nas entradas líquidas de IDP, em linha com crescimento do PIB no ano, atingindo US$ 65,2 bilhões (4,3% PIB). (Com Agência Brasil).
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