Os preços da indústria variaram -0,66% em março frente a fevereiro. O acumulado no ano também atingiu -0,66%, segundo menor resultado já registrado para um mês de março desde o início da série histórica em 2014. O acumulado em 12 meses ficou em -2,32%.
Os dados do Índice de Preços ao Produtor (IPP), divulgados hoje (28) pelo IBGE, mostram que, em março, 12 das 24 atividades industriais investigadas na pesquisa tiveram variações negativas em relação a fevereiro.
As quatro variações mais intensas foram: refino de petróleo e biocombustíveis (-4,10%), papel e celulose (-2,42%), outros produtos químicos (-1,41%) e calçados e produtos de couro (1,28%). Refino de petróleo e biocombustíveis foi o setor industrial de maior destaque na composição do resultado agregado na comparação mensal. A atividade foi responsável por -0,48 ponto percentual (p.p.) de influência na variação de -0,66% da indústria geral. Ainda nesse quesito, outras atividades que também se destacaram foram outros produtos químicos, com -0,12 p.p. de influência, alimentos (-0,11 p.p.) e papel e celulose (-0,08 p.p.).
“Refino é o grande destaque a influenciar o resultado do mês, mas também é central para compreender um movimento mais duradouro de recuo nos preços industriais que vem acompanhando a dinâmica das commodities no mercado internacional. A trajetória de redução dos preços iniciada na segunda metade de 2022 culminou em março em um acumulado em 12 meses de -2,32%. Desde setembro de 2019, o IPP não registrava uma deflação acumulada em 12 meses e a taxa registrada em março é a mais intensa em toda a série histórica”, destaca o gerente do IPP, Felipe Câmara.
Ele diz que um primeiro fator a considerar na análise de magnitude desse cenário é a “base de comparação”, os preços das commodities e insumos importados apresentaram, por razões diversas, altas acentuadas durante a pandemia, seguidas por um movimento continuado e significativo de redução nas commodities, impactando cadeias e setores “chave” na disseminação e determinação de preços na indústria doméstica. É o caso da cadeia derivada do petróleo ou a fabricação de alimentos, por exemplo.
“Isso ajuda a explicar a deflação na porta da fábrica. O barril do petróleo está em trajetória de queda desde o segundo semestre de 2022. Vale destacar que ele é o principal insumo da indústria de refino. Outras commodities em queda são os fertilizantes, que integram o setor de outros produtos químicos”, analisa Câmara.
Desde meados de 2022, os preços internacionais de fertilizantes e nafta vinham apresentando trajetória de queda, essa combinação foi muito importante em determinar os preços na indústria química (principal responsável pela taxa negativa em 12 meses). Embora mais recentemente a nafta tenha “descolado” da trajetória do barril de petróleo, com reflexo de alta nos derivados da petroquímica, setorialmente, esse efeito ainda vem sendo compensado pela queda dos preços de fertilizantes.
No caso dos alimentos, as reduções de preço vêm sendo associadas a aumentos na oferta de produtos com grande peso no setor. Em meses anteriores, a carne e leite foram protagonistas nesse sentido, e em março, em particular, foram os derivados da cadeia da soja os destaques em pressionar para baixo os preços ao produtor. “Os preços do grão, do farelo e do óleo estão em queda, e essa redução pode ser associada ao período de colheita de uma safra expressiva”, completa o gerente do IPP.
Já nas indústrias extrativas, apesar do resultado positivo no mês corrente (devido à alta nos preços do minério ferro), o índice no acumulado em 12 meses é de -20,31%, décimo resultado negativo consecutivo nessa perspectiva.
A redução nos insumos industriais vem tendo seu efeito sobre os preços dos bens para consumo final, o que fica claro ao se analisar o comportamento das grandes categorias econômicas. O gerente do IPP ressalta que o movimento de redução de preços, iniciado no segundo semestre de 2022, é mais expressivo na categoria de bens intermediários, mas vem sendo transmitido, em alguma medida, para níveis seguintes das cadeias industriais.
“A inflação acumulada em 12 meses na Indústria Geral está em -2,32%, mas, nos bens intermediários, está em -6,31%. E, é importante perceber que nesse período, bens de consumo vêm numa desaceleração contínua. Hoje a categoria está em 2,46% em 12 meses, a taxa mais baixa desde 2019. Podemos perceber que há transmissão de preços para a ponta da cadeia”, ressalta Câmara.
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