Fabrízio Gueratto: Selic em 2% fez a renda fixa morrer?

Fabrízio Gueratto: Selic em 2% fez a renda fixa morrer?

Com a taxa Selic em 2%, ouço muita gente dizendo que a renda fixa se transformou em “perda” fixa e eu sempre me perguntei o motivo de toda essa preocupação com a taxa de juros, já que é comum nos demais países uma taxa mais baixa, zerada ou até mesmo negativa, como na Suíça e Japão. Portanto, é necessário começar a olhar para a renda variável, sim, porém, sem matar os investimentos em renda fixa. Ela ainda tem sua importância, e não é pouca.

Selic

Selic: por que a renda fixa ainda é importante?

Para o investidor conservador, com objetivos de curto prazo, é uma necessidade aplicar o capital em uma modalidade com ativos seguros e com rendimento previsível. Essa é a primeira razão de a renda fixa ser essencial em alguns casos.

Selic: quais os rendimentos dos investimentos de renda fixa?

Hoje, a temos a Selic em 2%. Isso significa que o 100% do CDI rende menos ainda, ou seja 1,9% de rentabilidade bruta, sem descontar o imposto de renda. Resumindo, quase nada. E a poupança apenas 1,4% ao ano. Pior ainda.

Com isso, quando consideramos uma inflação de 3%, por exemplo, significa que o dinheiro está perdendo valor. Entretanto, os ativos que remuneram 100% do CDI, geralmente são aqueles com liquidez diária, como CDBs e Tesouro Selic. Mas acredite, ainda hoje é possível encontrar investimentos que rendem 1% ao mês. Exatamente isso que você está vendo.

Resumindo, cada vez que a taxa de juros cai, a renda fixa fica menos importante na carteira de investimentos, mas nem por isso ela deixa de ser essencial.

Selic: por que investir em renda fixa?

Há dois motivos que fazem eu, você ou qualquer investidor precisar ter renda fixa na carteira. Primeiramente, em razão da reserva de emergência, que é o dinheiro que pode ser resgatado a qualquer momento (liquidez diária) e que não pode sofrer grandes oscilações, como ocorre com ações na B3 (B3SA3), por exemplo.

Imagine que você deixe sua reserva de emergência na renda variável e durante a pandemia é obrigado a resgatar com um prejuízo de 50%. Não tem como. Neste caso, a renda fixa com liquidez diária é a única opção.

Além disso, ter uma reserva de oportunidade é essencial na vida de um investidor atento no mercado financeiro. Imagine como o investidor prevenido, com uma reserva, aproveitou a liquidação de ações na B3 (B3SA3) durante a crise causada pelo novo coronavírus.

Não houve melhor momento para adquirir ativos na última década. Isso só foi possível para quem tinha investimentos da renda fixa e pôde migrar parte dele para a renda variável.

O Brasil ainda está caminhando para ser um país que investe em ações

Segundo relatório da B3, hoje há mais de 3 milhões de CPFs registrados na Bolsa. Ainda estamos longe de países como EUA, onde mais da metade da população investe em renda variável. Mas com o tempo, conforme o brasileiro for entendendo melhor como aplicar seu dinheiro, este conceito vai sendo desmistificado e o perfil vai mudando. Assim como a renda fixa sempre foi e será essencial, a renda variável agora ganha o mesmo status. Neste momento, não correr nenhum risco é muito arriscado.

O investidor atualizado e cauteloso deve entender que não há mais saídas para evitar o investimento de renda variável. O mercado está se afunilando. O mais importante é focar em ter uma carteira diversificada. O imprevisível, aquilo que nunca vimos antes, o cisne negro de Nassim Taleb, sempre aparecerá. O céu pode estar azul na estrada, mas tenha um guarda-chuva no porta-malas. O Brasil não é para amadores.

você pode gostar também

Comentários estão fechados.