4 especialistas do mercado financeiro explicam os impactos da crise na Argentina
O resultado das prévias eleitorais na Argentina surpreendeu as expectativas do mercado. Com a derrota por uma boa margem da chapa de Maurício Macri, os mercados derreteram, a Bolsa de Valores portenha perdeu US$ 23,7 bilhões em valor de mercado somente na última segunda-feira. Além disso, o valor da moeda caiu 16% em relação ao dólar, mesmo com as medidas do governo para reter a evasão de dólares do país. Especialistas do mercado financeiro comentam sobre como esses eventos podem afetar a economia brasileira.
Para Pedro Coelho Afonso, especialista Relações Internacionais e Economista-Chefe da PCA Capital, o histórico da chapa que saiu à frente da disputa levou a forte reação. “O mercado reagiu negativamente devido a possibilidade do retorno de um governo que acabou por degradar a economia argentina com dados manipulados, nacionalização de empresas e uma série de medidas que impactaram na crise atual. Os investidores fogem drasticamente de cenários desse tipo”, explica.
O Diretor de Câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo, explica o movimento de compra de dólares para escapar de possíveis crises, chamado de “fly to quality” ou “voo para a qualidade”. “Em uma crise de um país emergente e importante como a Argentina, todos os outros países emergentes são ‘contaminados’. Na argentina, o candidato para o mercado é o Macri, se ele for derrotado é provável que se conflagre uma crise econômica. Existe um movimento que se chama Fly to Quality é, basicamente, uma busca por ativos de maior segurança. O Brasil e todos os outros países emergentes configuram um risco maior para investimentos que os EUA, por exemplo. Então o dólar tende a valorizar mais em frente a outras moedas. O ouro também é outro ativo que se valoriza neste caso. O que acaba afetando todo o mercado”, comenta Bergallo.
Segundo Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus, o principal problema está na relação entre a chapa oposicionista e seu alinhamento com a política atual do Brasil. “Não é exatamente a crise da Argentina que traz problemas para o Brasil. A Argentina é a 3ª maior compradora de exportações brasileiras, então é um mercado importantíssimo. A preocupação agora então é como vai ficar a relação do governo Bolsonaro com um possível governo Fernandez. Recentemente o Presidente Jair Bolsonaro fez duras críticas à chapa oposicionista que também é muito pouco amigável ao Presidente. O que mostra que a relação entre os países será bem complicada. Então, a grande questão é a perda de um cliente fundamental. Além dos acordos, como o do Mercosul, que possivelmente serão revisados caso se concretizem os resultados deste final de semana”, ressalta Jefferson.
De acordo com Daniela Casabona, Sócia-Diretora da FB Wealth, existe uma preocupação em relação aos acordos entre Brasil e Argentina, pois o candidato derrotado nas primárias é mais alinhado com o governo Brasileiro. “Os resultados das eleições primárias impactaram de forma bastante negativa no Brasil em função da derrota de Macri, que fez com que o dólar disparasse para quase R$ 4,00 e causasse uma forte turbulência na Bolsa. Isso porque a possível derrota da chapa de Macri pode impactar as relações que o país tem com a Argentina. O candidato e atual presidente tem uma visão mais pró-mercado que a oposição e que vai mais de encontro com a nossa política atual”, finaliza.
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