A decisão do Banco Central do Brasil, que cortou a Selic em 0,50 p.p. trazendo a taxa de juros para 11,75%, acabou mexendo com as casas de análises.
Enquanto aguardam a divulgação da ata da reunião no próximo dia 19, as várias leituras sobre os próximos passos do Copom foram feitas nesta quuinta-feira (14).
Separamos aqui algumas análises:
Vinicius Romano – head de Renda Fixa e Analista CNPI da Suno Research
“Como na reunião de novembro, o comunicado citou preocupações do Banco Central brasileiro com o cenário internacional, que se mostrou mais incerto que o usual, exigindo cautela na condução da política monetária. Além disso, o Comitê reafirmou a importância da firme persecução das metas fiscais, as quais são essenciais para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária. Por fim, a autoridade monetária deve seguir no mesmo ritmo de cortes para as próximas reuniões.
O impacto da decisão para os ativos de renda fixa brasileiros, no âmbito de alocação entre os três tipos de remuneração (pós-fixados, prefixados e indexados à inflação), nos faz entender que, apesar do ciclo de queda, o patamar atual da taxa Selic ainda proporciona uma boa relação risco x retorno para os títulos pós-fixados, já que estes praticamente não sofrem com marcação a mercado e são positivamente impactados pelo alto nível da taxa básica de juros.
No caso dos títulos indexados à inflação (IPCA+), entendemos que os papéis com vencimentos no médio e longo prazo ainda proporcionam um carrego interessante aos investidores, com um juro real próximo de, na média, 5,75% ao ano sem risco de crédito (tratando-se de títulos públicos). Para os prefixados, nossa visão é de que existem boas opções (principalmente de emissão bancária) com duration um pouco mais curta, aproximadamente de 3 anos”, completou.
Eduarda Schmidt – economista da Órama
“No exterior, o recuo dos rendimentos dos juros de longo prazo em relação à última reunião foi reconhecido pelo Comitê, que indica uma melhora do cenário internacional desde então. Contudo, a resiliência dos indicadores econômicos americanos, que resultam na incerteza em relação à trajetória que será traçada pelo Fomc, ainda exige cautela.
No Brasil, a inflação vem apresentando um comportamento positivo nas últimas leituras, respondendo à segunda fase do processo de desinflação conforme esperado, com arrefecimento principalmente no preço dos serviços e da inflação subjacente. Esse movimento é uma peça essencial para o afrouxamento da política monetária.
No entanto, as expectativas de inflação apresentadas no Boletim Focus, ainda desancoradas, seguem sendo uma trava para a aceleração do ritmo dos cortes. A resiliência da economia, em especial do mercado de trabalho brasileiro, que apresentou recentemente uma elevação da massa salarial, também contribui para esse cenário. Vale destacarmos que o crescimento dos rendimentos reais, se mantiver o ritmo de alta, pode gerar uma pressão inflacionária nos serviços, e, eventualmente, pressionar os preços do setor, que vem apresentando uma trajetória benigna.
Em relação aos próximos passos, o Comitê manteve o forward guidance de redução dos juros na mesma magnitude nas próximas reuniões, incluindo as duas primeiras de 2024. Esse direcionamento nos parece acertado e é aderente com a decisão do Fomc, divulgada mais cedo desta “Super Quarta”. Tendo em vista os desafios relacionados à reancoragem das expectativas, um hiato do produto mais apertado e o risco de um possível descompasso com o Fed, não vemos incentivos para aceleração dos cortes no curto prazo.
Por fim, confirmamos nossa projeção de Selic em 11,75% ao fim de 2023. Para 2024, estimamos uma taxa terminal de 9,50% a.a., com quatro cortes de 0,50 p.p. e um último de 0,25 p.p..”
João Savignon, head de Pesquisa de macroeconomia da Kínitro Capital
“Copom entregou o corte de 50 bps na taxa Selic conforme amplamente esperado. Nossa leitura do comunicado pós-reunião pode ser considerada neutra, na medida em que confirmou os principais pontos esperados, como a sinalização do ritmo de corte de 50 bps para as próximas reuniões (no plural), que esse é o ritmo adequado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário e que a magnitude total do ciclo dependerá da dinâmica inflacionária, das expectativas de inflação (principalmente de longo prazo), do hiato do produto e do balanço de riscos.
Na avaliação do cenário externo, classificou como menos adverso, mas não alterou de forma significativa a sua visão. No doméstico, conforme esperado, as alterações também foram pontuais, com uma redução de 10bps nas projeções de inflação para 2023 e 2024, mantendo inalterada a expectativa de 2025. A avaliação do Copom é que o conjunto de indicadores recentes de atividade e inflação seguem consistentes com o cenário esperado pelo Comitê.
Por fim, no balanço de riscos, não houve alteração, com o Comitê avaliando elementos em ambas as direções.”
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