Organização financeira não tem idade

Etarismo: passar dos 40 anos é ser velho para planejar a vida financeira?

Na juventude, ainda um tanto ingênuos, costumamos ter a cabeça cheia de sonhos grandiosos. Um dos planos habituais nessa fase da vida é a estabilidade financeira antes dos 30/40 anos. Repletos de entusiasmo, acreditamos que atingir a meta neste intervalo é tarefa fácil e não raramente nos desiludimos e desanimamos com as dificuldades encontradas no percurso.

O que leva muitas pessoas a acharem que não é possível recomeçar depois de uma certa idade é o etarismo, discriminação por idade baseada em estereótipos. Este preconceito permeia uma sociedade que idolatra a juventude e acaba contaminando a todos. No entanto, passar dos 40 anos não é um obstáculo para começar a exercer um planejamento financeiro, muito pelo contrário, é um motivador. É por volta dessa idade, que a maioria de nós, mais assentados e com prioridades distintas daquelas da juventude, passa a refletir mais profundamente como se sustentará financeiramente quando se aposentar.

Apesar de a recomendação dos especialistas ser a de começar a pensar sobre investimentos financeiros o quanto antes, pois há mais tempo para juntar o dinheiro necessário para um velhice sem apuros financeiros, o avançar da idade não deve ser um impeditivo. Se a vida não se mostra assim tão convidativa e o sonho da estabilidade não se concretiza no tempo planejado, não quer dizer que ele deva ser abandonado.

A história de vida da educadora financeira Simone Sgarbi, por exemplo, é uma prova disso. “Quando eu era jovem, imaginava que aos 40 anos de idade já estaria com a vida toda resolvida, só usufruindo das minhas conquistas”, relata. Mas não foi isso que aconteceu. “Cheguei aos 40 anos endividada, perdida em vários aspectos da minha vida pessoal e profissional. A sensação de fracasso bateu forte”, conta.

Simone tinha sonhos ambiciosos e um forte senso de responsabilidade. Para realizar suas aspirações sem depender de ninguém, começou a trabalhar desde cedo e não parou mais. Aos 19 anos de idade já possuía um emprego formal na área de hotelaria, onde vislumbrava uma carreira bem-sucedida. Pouco tempo depois, começou a trabalhar em uma multinacional e quando já almejava uma promoção seu segundo filho nasceu com problemas de saúde, obrigando-a a mudar seus planos.

Buscando mais qualidade de vida para si e para a família, Simone abandonou sua carreira e mudou-se para o interior de São Paulo. À época, sua vida financeira já começara a degringolar. A vida de casada e com filhos trouxe diversos boletos para pagar. A situação piorou quando ela e o marido decidiram construir a casa dos sonhos e resolveram se tornar empreendedores. Para isso, acumularam dívidas e mais dívidas e ficaram com seus nomes negativados. Quando o pai de Simone ficou doente e ela não teve recursos para ajudá-lo, percebeu que havia atingido o fundo do poço. “Só pensava a respeito do que eu tinha feito com a minha vida”, relembra.

Simone desejava corrigir a rota desastrada, mas com a visão turva pelo preconceito por idade, achava que não tinha mais tempo para isso. “Ainda bem que estava redondamente enganada. Mesmo certa de que era tarde demais, resolvi cair lutando e foi assim que mudei minha vida radicalmente”, diz. Para isso, além de passar por cima de seu etarismo, foi essencial que ela mudasse sua mentalidade em relação ao dinheiro.

“No início da minha vida eu achava que dinheiro era sujo. Quando comecei a passar dificuldades financeiras troquei me desprezo por raiva. Até que coloquei o dinheiro no lugar a qual pertence: uma ferramenta que se eu aprendesse a usar seria de grande utilidade e se não aprendesse só me atrapalharia”, comenta.

Mergulhando nos estudos de psicologia econômica e finanças, Simone conseguiu, após os 40 anos de idade, organizar sua vida financeira e da família, e a devedora deu lugar a investidora. Ela aprendeu que toda escolha gera uma renúncia, mas, quando esta é feita por um sonho e quando esse sonho é transformado em uma meta clara e objetiva, tudo se encaixa e as coisas acontecem. “Hoje chego aos 50 anos realizada profissionalmente, pessoalmente, com liberdade geográfica e financeira para viver a vida que eu achava que não teria mais tempo de viver”, diz.

“Não que tenha sido fácil”, garante a educadora financeira. Conforme Simone, o processo de educação financeira exige a mudança de hábitos já bastante arraigados, o que pode ser bastante exaustivo. Além disso, demanda a troca de prazeres imediatos por planos de longo prazo, o que tende a tornar o trabalho pouco atraente e aumentar a vontade de desistir. Por isso, segundo ela, é preciso persistir, pensando que vale à pena passar por privações momentâneas para não levar uma vida caracterizada por dificuldades duradouras.

Tomando a si como exemplo, Simone aconselha todos que se acham velhos demais para mudar a não desistir. “Não faz mal se até aqui você nunca investiu, nunca organizou suas finanças ou transformou seus sonhos em metas. Hoje é o dia. A hora é agora. Sempre dá tempo. Sou a prova disso”, conclui.

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