Aprendo sempre junto aos empreendedores. De um deles, agricultor muito sábio, guardo a seguinte frase: “você pode mentir para todo mundo, só não consegue mentir para o tal do “Caixa”.
Pois é, em tempos de AMBEV e Magalu machucados, auditorias e reguladores questionáveis na sua eficiência, bancos gringos colapsando, SELIC de dois dígitos e inflação de volta (ou você achava que não ia chegar o boleto do “Quantitative Easing” para todos!?), voltamos ao básico.
Não existe dinheiro barato o tempo todo. O capital volta a ter sua opção predileta, ser rentista no modelo “risk free” ou seja aplicando em títulos de governos, tais como NTN no Brasil ou US Treasuries nos Estados Unidos. Para bater o custo de oportunidade, temos como empresários ter clara a razão da alocação do capital e o benefício que justifique o risco retorno do mesmo para o Credor de forma que o serviço da dívida caiba no fluxo de caixa e ainda gere benefícios para a empresa.
Exceto por poucos negócios como Desenvolvedoras de Software e afins, onde escala, expansão de margens e geração de caixa andam mais facilmente de mãos dadas, a grande maioria dos mortais necessita de Capital de Giro e Investimentos para crescer. É aí que o empresário começa a entender que lucro e caixa se encontram algumas vezes, mas nem sempre. A geração de caixa é classicamente composta pelos elementos combinados de lucro, capital de giro adicional, investimentos, distribuição de lucros e captações com bancos e suas respectivas amortizações. Esta conta no agregado, eventualmente conversa com lucro.
É de suma importância o exercício rotineiro do fluxo de caixa projetado da empresa. Esta tarefa está longe de trivial. Em alguns setores como Construção Civil é ainda mais hercúlea a tarefa, dado que se leva em consideração uma série de premissas como ciclo de vendas, impactos de insumos, inflação da cadeia de suprimentos, repasses de bancos públicos federais e até meteorologia. A saída é fazer a modelagem, incluindo três cenários clássicos: romântico, conservador e estressado e, trabalhar com uma nuvem de resultados esperados.
Em tempos de margem operacional “apertada”, ter time sênior nas empresas que entenda e se comunique com transparência com os bancos e gestores da Faria Lima e do Leblon, vai fazer diferença. As operações não serão baratas. Estes agentes demandam certo nível de Governança Corporativa que muitas das empresas ainda não conseguiram atingir. Parece mais complicado do que de fato é. Mas, depende do engajamento do empresário em investir em senioridade de time e robustez de sistemas, ser honesto consigo mesmo com a realidade de suas margens e priorizar os gastos.
Mar difícil faz o marinheiro forte. Se o Zuckerberg pode cortar custos e questionar sua estrutura para crescer, nós mortais deveríamos ainda mais. Hora de olhar as coisas no centavo e cuidar bem do departamento financeiro da sua empresa. Nada é para sempre, nem a SELIC de ontem, nem a de hoje.
*Marco França é Engenheiro pela PUC e sócio-fundador da Auddas
*A opinião neste artigo não reflete necessariamente a posição do 1Bilhão
Comentários estão fechados.