ARTIGO: Incerteza para 2023?

Recomendação: faça um checklist básico das condições para atravessar os desafios

Anda angustiado diante das incertezas da economia e do mercado? Tem vasculhado as previsões, ávido por indicações de operações e ativos capazes de protegê-lo das intempéries anunciadas? Se a sua resposta é sim, é para você que eu escrevo. Não gosto nem me convém criar falsas expectativas. Portanto, esclareço desde logo: não tenho solução para a incerteza; nem a previsão e nem a dica de ouro.

Meu assunto não é tanto a incerteza, mas a angústia derivada da nossa impotência diante do que desconhecemos. Convenhamos: passamos por uma pandemia inédita, vivendo uma revolução de costumes sem precedentes, sob o domínio de tecnologias utilíssimas, mas que retiram de nós a presunção de controle e nos inundam de informações contraditórias, e, ainda, em meio a um ambiente político nacional e mundial conturbado, entre outras questões.

Minha sugestão para 2023 – e para todos os anos – é um checklist básico das condições para atravessar o desconhecido com a maior tranquilidade possível. Esse pequeno roteiro abaixo pode ajudá-lo, inclusive, a identifica-las:

Você tem noção exata do volume e da distribuição do seu patrimônio?
Seus gastos anuais, considerando despesas recorrentes, não recorrentes e imprevistos pessoais estão dimensionados com precisão? (tenha em mente também responsabilidades contratuais que você possa vir a ter que assumir)

Você dispõe de uma reserva líquida, investida em renda fixa com o menor risco de crédito possível, suficiente para as despesas de, no mínimo, três anos?

Seus recursos excedentes a essa reserva estão diversificados em múltiplos ativos de renda variável com bons fundamentos para obter resultados a médio e longo prazo?

Seus investimentos em renda variável estão sob a gestão de diferentes especialistas, todos experientes, bem reputados, comprometidos (realmente, comprovadamente comprometidos) com uma política de investimento de longo prazo e estratégias que você é capaz de compreender?

Se você titubeou no item 1, consulte suas declarações de renda nos últimos dois anos, ponha tudo em uma planilha, distinguindo investimentos financeiros, imóveis e renda líquida, e faça uma análise observando rendimentos passíveis de cessar, como alugueis, salários, lucros e proventos sujeitos a redução ou suspensão.

Se a pergunta do item 2 fez você coçar a cabeça ou o queixo, consulte os extratos bancários dos dois últimos anos e considere a possibilidade de novas despesas emergenciais. Seja realista, não arredonde para baixo. Pode ser um choque, mas o resultado é a realidade, a certeza que você pode ter e pode administrar. É bem melhor do que conviver com fantasmas.

Se o item 3 obrigou você a concluir que as despesas ultrapassam a renda, analise os gastos objetivamente. É possível que alguns cortes indolores resolvam o problema e, talvez, até façam bem a você e a sua família. (Não é raro que a liquidação de um bem imóvel sem muito uso ou com baixa rentabilidade seja a solução.)

Se, ao chegar ao item 4, você concluiu que não há recursos excedentes, volte ao item 3.

Se os recursos existem e estão investidos como recomendado, passe ao item 5. Caso você não possa responder afirmativa e desassombradamente a ele, sua resposta ao item 4 é temerária e deve ser reformulada.

Se você não se julga capaz de lidar com tudo isso, aceite o fato sem culpa e procure ajuda especializada. Por fim, se você pôde responder sim com segurança a todos esses itens, esteja atento a manter sua reserva de liquidez e as proporções dos seus investimentos, transferindo recursos dos mercados em alta para os mercados em baixa ao menos uma vez por ano. Faça o que precisa ser feito, durma e acorde tranquilo, cuidando do que está ao seu alcance, a começar por você mesmo. Excelente 2023!

*Sigrid Guimarães é sócia e CEO da Alocc Gestão Patrimonial

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