Às vésperas de divulgar o balanço do segundo trimestre, no próximo dia 28 de agosto, o IRB Brasil Resseguros (IRBR3) enfrenta a desconfiança do mercado após ter, em 2020, um dos piores anos de sua história.
Segundo o A Tarde Online, um dos principais periódicos de Salvador, a situação foi agravada pela atuação da Superintendência de Seguros Privados (Susep) – órgão estatal que tem a função de fiscalizar o setor.
Ocorre que o Tribunal de Contas de União (TCU) investiga, desde junho, a existência de irregularidades na Susep.
Agora, também o Ministério Público Federal (MPF) sinaliza a abertura de uma nova investigação. Entre os alvos dessas apurações está a superintendente da Susep, Solange Vieira.
Apesar desse quadro, na última sexta-feira, as ações ordinárias da IRB Brasil lideraram os ganhos do Ibovespa, com uma alta de 9,99%.
Porém, os analistas recomendam muita cautela já que as perspectivas para a empresa são cada vez mais incertas.
Isso em razão de uma peculiaridade do IRB Brasil: apesar do bom desempenho na venda de ações no pregão de sexta, os papéis da resseguradora também foram os mais alugados nesse mesmo dia.
Significa dizer que boa parte dos investidores aposta mesmo é na queda do ativo da empresa.
Ação calculada ou cálculo da ação
De acordo com o periódico, quando calculada a relação entre o número de ações em circulação no mercado e a quantidade de papéis alugados, chega-se a um total de 17% para a IRB, bem acima de outros ativos como Ecorodovias ON, que ocupa o segundo lugar do ranking com 13%, mesma quantidade de Usiminas PNA.
Os números de aluguel de ações são calculados a partir da análise dos papéis negociadas BTC (Banco de Títulos CBLC) – uma operação em que investidores doam seus ativos para outros investidores.
Estes, que recebem o ativo, desejam apostar na baixa destes papéis. Assim, o cálculo é feito considerando que, quanto mais ações estão sendo doadas (ou tomadas) para aluguel em relação ao total de papéis em circulação no mercado, maior a probabilidade de que o mercado esteja apostando em massa no recuo de um ativo.
IRBR3: carta da Squadra
Também ontem (24), a Squadra Investimentos divulgou uma carta reafirmando sua aposta em queda das ações do IRBR3.
De acordo com a gestora, a nova administração tem tomado decisões voltadas para o crescimento ao invés de “encolher e reestruturar”.
Essa é a terceira carta da Squadra falando sobre problemas na IRB este ano. Em fevereiro, a gestora questionou a rentabilidade apresentada pelo ressegurador.
Os documentos desencadearam uma série de eventos na empresa que culminaram com a troca da gestão e o aumento de capital.
IRBR3: papel da Susep
Regulador primário do setor de resseguros, a Susep não emitiu nenhuma manifestação diante das notícias e relatórios que apontavam fraude no ressegurador.
Por conta disto o Tribunal e o MPF está no pé da Susep. O primeiro grande “alerta” das fraudes na contabilidade e na gestão do IRB Brasil foi justamente dado pela Squadra, em novembro de 2019.
No relatório de fevereiro, a Squadra se baseou no balanço do ano de 2019 da empresa.
Segundo o documento, os números apresentados pelo IRB o colocavam em patamar superior ao de resseguradoras maiores, presentes em países com mercados mais pujantes e mais desenvolvidos.
Depois veio escândalo de proporções internacionais. Falsas informações divulgadas à imprensa especializada de que o bilionário americano Warren Buffet teria adquirido participação relevante no ressegurador brasileiro – tudo com o intuito de inflar artificialmente o valor das ações, acabaram levando à queda dos principais executivos da companhia em março de 2020.
Mesmo enquanto os escândalos se multiplicavam no noticiário, a Susep continuava paralisada diante dos problemas divulgados, sem que a superintendente do órgão pudesse alegar desconhecimento.
Isto porque os laços que a família de Solange Vieira possui com o IRB Brasil Re são fortes e antigos. O esposo dela, Rogério Muniz Costa Acquarone, foi gerente jurídico do IRB por mais de seis anos (2005-2011), lembra o A Tarde.