O primeiro trimestre de 2021 foi marcado pela forte volatilidade da bolsa brasileira. O Ibovespa, principal índice de ações brasileiras, encerrou o período com queda de -2%, aos 116 mil pontos. Já a nossa moeda continuou com uma das piores performances do mundo, atingindo em seu pior momento no ano R$5,80. O mau humor local veio das preocupações com o descontrole fiscal, fator exacerbado pelo ambiente político e pelo aumento do número de casos de COVID-19, causado pela variante brasileira e que levou ao fechamento do comércio em várias regiões do país.
Assim, o Ibovespa se descolou dos principais índices acionários americanos, que atingiram a máxima histórica. Em um cenário de forte recuperação econômica, grandes estímulos fiscais e monetários, uma discussão ganhou força neste trimestre: o receio de que possamos ver níveis de inflação mais altos nos próximos anos. Como reflexo disso, as curvas de juros ao redor do mundo subiram bastante e impactaram a precificação das empresas de crescimento, em razão das empresas de value.
[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=lB6e0ZVLchI[/embedyt]
Mercado SaaS
No Brasil, além do receio fiscal, a desvalorização da moeda concomitantemente a uma forte alta das commodities, ajudou a inflação subir de forma relevante. Com isso, o Banco Central do Brasil iniciou um processo de alta da Selic. Diante deste contexto, a gestora de recursos SFA Investimentos continuou com um posicionamento em empresas que acreditam que possuam uma boa perspectiva de longo prazo.
“Possuímos posições tanto em empresas no setor de tecnologia, como em setores mais tradicionais de forma agnóstica. Embora no curto prazo estas empresas possam apresentar movimentos distintos, devido à influência macroeconômica nas cotações das ações, no longo prazo o potencial de geração de valor das empresas do nosso portfólio é o que realmente importa”, comenta Ciro Aliperti Neto, gestor e sócio-fundador da gestora.
- Só clique aqui se já for investidor
Framework das empresas SaaS Cloud
Um fenômeno que tem ganhado cada vez mais atenção dos investidores no Brasil é a emergência de empresas de tecnologia, cujos modelos de negócios se estruturam em contratos de serviços de software, por assinatura, oferecidos através da Internet.
A principal diferença desses modelos está na possibilidade de oferecer o serviço de maneira totalmente on-line, atendendo clientes de diferentes portes, com excelente nível de serviço, sem que haja necessidade de aquisição de licenças proibitivas e instalação nos servidores próprios das empresas.
Modelos
Estes modelos de negócios têm características de investimento extremamente atrativas, como baixo investimento de capital, modelos de receita recorrente e escaláveis e perspectiva positiva de crescimento setorial, devido à forte tendência de digitalização observada na economia no mundo todo.
Com a restrição ao deslocamento no ano de 2020, este processo foi acelerado significativamente, impulsionando novas companhias e inflando os múltiplos das empresas de software por assinatura tanto aqui, quanto no exterior.
“Na SFA, acompanhamos o setor de software há bastante tempo e estamos observando como a emergência deste novo formato de entrega de software em nuvem tem movimentado a indústria de maneira estrutural e extremamente interessante do ponto de vista de oportunidades de investimentos. Dessa forma, nos aproximamos da Astella Investimentos, uma das melhores gestoras de investimento em venture capital do Brasil, fundada em 2008, e altamente especializada nas tendências tecnológicas que viabilizam o forte crescimento de empresas brasileiras inovadoras, como a Omie e a RD Station”, complementa Aliperti.
Para a gestora, a troca de visões entre gestores de venture capital/private equity e de public equities é bastante produtiva para os dois lados, com geração de insights sobre a forma de analisar e sobre oportunidades de investimento nos dois campos de atuação. E, dessa parceria, surgiu a ideia de compartilhar com seus investidores o framework de análise destes novos modelos de negócios, começando com as empresas de SaaS Cloud.
Negócios em Cloud
Segundo a carta produzida para SFA e Astella, os fatores que mais importam para análise de valor de uma empresa cloud são o crescimento de receita, margem bruta, e a retenção ou expansão de clientes.
A taxa de crescimento de receita de uma empresa cloud é o fator mais influente para o valuation hoje. A mediana de crescimento da receita anual dos últimos 12 meses das empresas de cloud de alto crescimento, listadas na bolsa americana, foi de 52% ao ano. A mediana geral ficou em 30% de crescimento de receita ao ano.
Análise
Mas, para análise de valor de empresas “SaaS” é importante olhar o crescimento em conjunto com a margem bruta. O maior lucro bruto está ligado diretamente com o maior potencial das empresas de investi-lo em crescimento, por meio de despesas de marketing e vendas ou de produto. Uma boa margem bruta de cloud esperada por investidores é acima de 70%.
Para as empresas tradicionais de software, a migração para cloud possibilita uma transformação importante: é possível melhorar o nível de serviço para seus clientes, agilizar o onboard e integrar novas soluções à plataforma que podem ser vendidas sem fricção. De olho nisso, as maiores empresas de tecnologia do Brasil estão fazendo importantes movimentos estratégicos como aquisições de tecnologias e estruturação de áreas de corporate venture capital de maneira a se aproximarem da inovação e agilizarem a oferta de soluções para seus clientes, alavancando seu relacionamento historicamente construído.