Os dados da economia americana, divulgados desde a última sexta-feira (04/02), são muito relevantes para mensurar como o Banco Central dos EUA (FED, na sigla em inglês) está posicionado em relação ao seu objetivo de estabilidade de preços e pleno emprego. Em ambas as perspectivas, o sinal é uníssono: o FED já mais do que excedeu seu objetivo e agora precisará caminhar para a retirada de estímulo monetário de forma acelerada.
Diferente de outros grandes Bancos Centrais no mundo, o FED tem um mandato duplo. Ele tem de entregar tanto estabilidade de preços como o mercado de trabalho em seu nível de pleno emprego. Como é costumeiro, esses dois elementos entram na famosa “regra de Taylor”, uma expressão de política monetária que, dadas as preferências do Banco Central por tolerar ou não desvios da inflação em relação à sua meta e desvios da taxa de desemprego em relação a sua taxa de equilíbrio, indica qual postura de política monetária é mais apropriada.
O que observamos ao longo do ciclo passado foi que a inflação ficou persistentemente baixa, permitindo ao FED manter uma taxa de política monetária muito expansiva por um longo período. Tanto é que a primeira alta do ciclo ocorreu somente em dezembro de 2015, sendo que a alta seguinte veio só um ano depois, em dezembro de 2016.
Esse ciclo tem características diferentes. A última leitura do payroll (04/02) mostrou mais uma vez um mercado de trabalho apertado, com uma baixa taxa de desemprego e rápida aceleração de salários. O ritmo de criação de vagas no mês de janeiro e a revisão desse mesmo indicador para dezembro reforçam a tese de que estamos lidando com um mercado maduro, capaz de produzir pressões significativas.
Reforçando essa tese, o índice de preços ao consumidor, divulgado na quinta-feira (10/02), mostrou a maior taxa de inflação desde 1982. Vemos uma aceleração disseminada, tanto dos itens mais voláteis como dos componentes subjacentes, sugerindo que a pressão inflacionária deverá ser persistente ao longo dos próximos meses.
O avanço dos preços de petróleo, que tem o barril negociado acima de US$ 90, junto à perspectiva de uma economia chinesa com mais estímulos, também ajuda a corroborar a tese de que a inflação pode ser mais duradoura e intensa nos próximos trimestres.
Assim, o caminho natural para ação do FED neste momento é de retirada de estímulos monetários, visando controlar tanto a demanda agregada da economia como as expectativas de inflação ao longo do tempo. Por enquanto, o mercado precifica razoável probabilidade de que a primeira alta do ciclo seja de 0,5%, algo não visto desde os anos 2000.
Como reagem os mercados no Brasil? Tudo mais constante, o movimento de juros para cima nos EUA drena liquidez global, o que dificulta a vida para economias emergentes. Dito isso, o movimento de aperto na política monetária também ocorre aqui, e a ata do Copom, divulgada na terça-feira (08/02), mostrou que o ciclo poderá ser mais extenso do que o antecipado. Teoricamente, isso permite uma absorção maior do choque advindo do exterior. De toda forma, é muito provável que o aperto de liquidez também se faça sentir por aqui.
Por Felipe Sichel, estrategista-chefe do modalmais.