O rating soberano do Brasil permanece em BB-, grau especulativo, e ainda por cima, com perspectiva negativa para um possível rebaixamento, de acordo com a Fitch Ratings. Na decisão, divulgada nesta terça-feira (14), a agência de classificação de risco na prática afirma que o Brasil não é confiável para o investidor estrangeiro e está caminhando para piorar ainda mais – com riscos fiscais relevantes e um 2022 bastante complicado, com uma eleição complicada que promete furar o teto de gastos.
Não quer dizer que não há boas coisas na economia brasileira, que a agência declara ser grande e diversificada, com uma renda per capita relativamente alta em relação aos pares e capacidade de absorver choques externos, com reservas internacionais robustas e status de credor externo líquido. Tudo isso salva o Brasil de um cenário apocalíptico estilo Venezuela, mas não quer dizer que chegamos no pior dos momentos.
“As perspectivas de consolidação fiscal de médio prazo serão influenciadas pelo resultado das eleições de 2022″, salienta a agência – um cenário não muito agradável para o investidor estrangeiro, que vê os principais candidatos da eleição, o ex-presidente Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro prometendo gastos extraordinários ou o fim do teto de gastos.
“Embora a Fitch presuma que o próximo governo cumpra o teto de gastos, mudanças adicionais no teto não podem ser descartadas. Dado o baixo nível de gastos discricionários e a crescente rigidez orçamentária com a introdução do ‘Auxilio Brasil’, outras reformas podem ser necessárias para conter os gastos obrigatórios a fim de cumprir o teto de gastos de maneira sustentada”, acredita.
Difícil acreditar que reformas fiscais vão ser prioritárias para qualquer candidato populista. As eleições de 2022 vão ser chave para entender o futuro econômico do Brasil e não se surpreenda se elas definirem um corte ou um avanço no rating soberano.
A chave talvez esteja no surgimento de um candidato mais responsável que consiga fazer frente aos dois nomes. “O surgimento de um candidato centrista confiável é incerto. Independentemente de quem ganhe, o próximo presidente herdará uma economia fraca, com desafios fiscais consideráveis e confiança enfraquecida em torno do teto de gastos, aumentando assim a necessidade de ajustes e reformas fiscais”, completa a agência.
Embora a economia brasileira deva ter alta de 4,8% em 2021 – se recuperando parcialmente da tragédia da pandemia -, esse ritmo deve desacelerar para 0,5% em 2022, acredita a Fitch. Pesa também a desaceleração da economia chinesa, que continua sendo a nossa principal parceira comercial, que deverá crescer “apenas” 4,8% em 2022, o pior resultado em décadas.