A partir da crise instaurada por conta do avanço da COVID-19 tivemos dois grupos de profissionais em destaque, os da saúde, incluindo médicos, enfermeiros, engenheiros biomédicos, infectologistas e economistas.
Os profissionais da área da saúde por um motivo óbvio, a crise é sanitária, mas após a crise sanitária ou melhor ao longo de seu processo, os problemas econômicos vinham à reboque, de modo que ainda estejamos com sérias consequências em termos de queda na renda, aumento no desemprego, aumento dos gastos públicos que afetarão gerações futuras.
Todavia, não há consenso entre os economistas sobre o que deve ser feito, qual abordagem deve ser tomada ou, até mesmo, sobre o que vai acontecer e isso não é de hoje, sempre tivemos essa divergência entre os economistas, pois ao contrário do que muitos pensam, economia não é uma ciência exata.
As previsões
Um dos questionamentos que foram feitos a muitos economistas na mídia, na academia, no mercado e nos almoços em família foram: “a economia não iria derreter segundo o FMI?”. Sim segundo o FMI, o Brasil teria derretimento de 9,1% em 2020, o mundo teria queda de 4,9% e as economias avançadas teriam queda de 8%. Bem, sabemos que não foi isso que aconteceu.
Como em outros momentos, as previsões também não se concretizaram, como a do prêmio Nobel de economia Robert Lucas Jr. Em seu artigo “Understanding business cycles” os salários perderiam seu comportamento cíclico e anticíclico, isto é os ciclos econômicos estariam dissipados, mas poucos anos depois, nos anos 2000 tivemos a crise das ponto com.
Em 2003 o mesmo economista disse que as condições já estavam normalizadas e Ben Bernanke, diretor do FED, falava da grande moderação em 2004 e em 2008, o mundo passou por uma das mais severas crises da história e em 2007 Joseph Stiglitz dizia que a Venezuela estava no caminho certo, claro que mudou sua visão depois.
Olhando para o Brasil atual, vários economistas falavam de não haver problema de cheque inflacionário no Brasil ou que não havia tendência tendo em vista a atividade econômica que continuava baixa. No entanto, mais uma vez a realidade não foi essa.
Também há as provisões um tanto apocalípticas que já fez a economia ser chamada de ciência sinistra. Uma das mais famosas previsões de fim do mundo, foi a de Thomas Malthus, o economista e pároco britânico que dizia que o mundo morreria de fome, se o crescimento populacional continuasse (algo que muitos voltaram a falar), mas não foi isso que aconteceu.
Na verdade, o mundo se tornou cada vez mais rico, ao ponto que alguém de classe média ou classe média baixa em seu país, hoje vive com condições de nobres em sua época, no sec. XVIII. Apesar desses erros cometidos pelos economistas, não é sempre que os economistas erram, mas fica evidente que esses erros de previsão, por vezes têm motivos, mas que muitos não acabam assumindo, suas crenças e como cada economista acaba levando em conta a evolução dos fenômenos econômicos e sociais permitindo fazer alguma previsão, mas não tão exata dos fatos.
Sendo ludibriado
Muitos economistas, ao construir seus argumentos ou montar seus modelos, partem do princípio de que a ciência econômica é “pura” e que não se contamina com questões ideológicas ou crenças infundadas, mas que estão fazendo ciência tal qual um físico ou químico fazendo seu experimento em seu cubo de ensaio, mas deve ser por isso que existam tais erros de previsão ou é por isso, que muitos esperam que a economia seja isso mesmo não sendo.
Por mais que a economia busque tratar apenas dos fatores econômicos e da busca racional do ser humano em busca da maximização de lucros e bem-estar, se afastando de uma certa moral ou ideologia, o próprio objeto de estudo da ciência econômica não se comporta assim.
O ser humano não é tão racional quanto os economistas pressupõem. Por exemplo, Richard Thaler, prémio Nobel de economia comentou sobre a história do Fundo de Investimentos Cuba. O fundo, apesar de ter esse nome, não tinha nada a ver com o país socialista. O simples fato do fundo ser negociado pelo ticker CUBA fez ele subir quando Obama anunciou que afrouxaria a os embargos à Cuba (o país) e depois, quando o Trump anunciou que aumentaria o embargo, o preço caiu fortemente:
Basicamente, não houve muita racionalidade por parte dos agentes, para ser bem modesto. Paul Krugman, outro prémio Nobel de economia, em um artigo denominado “Como os economistas puderam errar tanto?” o autor fala que muitos dos erros produzidos por economistas se devem às suas crenças ou opiniões políticas e isso também está relacionado como a forma com a qual lidam com o estudo da economia e suas preferências, como os modelos matemáticos.
No artigo, Krugman começa com o subtítulo “Confundindo beleza com verdade”, onde mostra que os economistas acabam tendo um deslumbre a beleza dos modelos matemáticos e confundiu essa beleza com a verdade o que muitas vezes acaba não atrapalhando apenas as previsões mas a abertura para outras abordagens existentes de estudar economia, com o argumento de que se não há um modelo matemático rígido, não há ciência.
Todavia os temas em torno da metodologia de estudo em economia e as escolas do pensamento inerentes as mesas renderia mais um texto. Os erros de previsões ou de percepção não decorre apenas da abordagem mais ortodoxa da economia, a que parte do princípio do homem racional. Economistas da Nova Matriz Econômica do segundo governo Lula e do governo de Dilma previam que a continuidade da política não geraria problemas inflacionários e crise fiscal.
Assim, independente da abordagem e de que qual escola o economista siga. Há economistas que acreditam que o planejamento seja ineficiente como o pesquisador sênior do Instituto Hoover de Stanford, Thomas Sowell que em seu livro “Fatos e Falácias da Economia” mostra o desastre do planejamento urbano nos Estados Unidos, mais especificamente em Chicago, que partia do princípio de tornar a região mais acessível a agradável para pessoas pobres, principalmente negras.
O que aconteceu, foi a degradação do espaço, casas arruinadas, incorporadoras abandonando o local, e apenas existindo parques e apartamentos superlotados, aumentando os níveis de pobreza e violência, como também registrado pelo cientista social Duncan J. Watts em seu livro “Tudo é Óbvio: desde que você saiba a resposta (como o senso comum nos engana)”.
Tanto no caso de Duncan, quanto no de Sowell o que é questionada não é a racionalidade do consumidor, das famílias ou dos empresários, mas sim de um planejador central, nesse caso, o que engana não é a beleza matemática dos modelos, mas o desejo de controle e um certo excesso de pensamento positivo em ralação às previsões de política planejada.
Mas faz sentido
Apesar de todos os erros que já foram cometidos por economistas e especialistas de outras áreas que são importantes para a tomada de decisão de outros profissionais em seu dia-a-dia como do cientista político, por exemplo, um pensamento interessante é “pior que a previsão, é não ter previsão alguma”.
Por mais que as previsões errem em alguns momentos, vale lembrar a tendência pode estar certa, contribuindo para que as pessoas que se utilizam dessas previsões possam tomar decisões satisfatórias, mesmo que não estejam 100% corretas.
É claro que existem eventos chamados de Cisne Negro como é abordado por Nicholas Taleb, isto é, eventos que nunca aconteceram e que não podemos prever, como foi o caso da pandemia, algo que não pode ser atribuído a algum tipo de incompetência de ciências políticos ou economistas uma vez que em seus modelos, sempre é considerado um termo de erro, ou seja, a parte que não é possível prever.
Outro fator importante é que as previsões geram expectativas e, com base nessas expectativas é possível tomar decisões de curto ou médio prazo, fazendo com que alguém que opere no mercado financeiro, por exemplo tenha ganhos. Outro fator interessante é que muitas das estatísticas são ajustáveis ao longo do tempo dando tempo de recuperar possíveis perdas ou ampliar os ganhos no caso de uma companhia ou investidor.
Os erros cometidos por especialistas. Mas como não ser influenciado por erros de especialistas? Na verdade, um pensamento hegemônico não é para sempre, o que convencional muda e por vezes quem está à margem no momento pode estar com a razão. Assim, vale a pena sempre buscar diferentes pontos de vista, mas tomando cuidado com a fonte da informação.
Já para os economistas e outros especialistas, me incluo na categoria, devemos ter a mente aberta e lembrar que existem várias formas de enxergar e analisar um problema, principalmente quando se trata de uma ciência social. Além disso, manter o diálogo com profissionais de outra áreas também é de suma importância podendo contribuir para compreensão mais completa do mundo.
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