UFRJ analisa e classifica as criptomoedas de melhor retorno

O mercado de criptomoedas está em pleno crescimento, com destaque para o Bitcoin, com 60,69%. Por conta disso, o Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ) analisou e classificou os ativos com melhor retorno.

Conforme o levantamento, existem hoje 7.468 moedas digitais listadas no site Coin Market Cap e o Bitcoin é o primeiro em capitalização de mercado com cerca de US﹩ 227,2 bilhões.

Após mais de uma década de existência, as criptomoedas já apresentam números próximos aos de moedas/ativos reais negociados em mercados maduros.

Criptomoedas

Mas quais moedas digitais, de fato, são as que apresentam melhor performance em termos de risco/retorno? Quais dos modelos financeiros conhecidos na análise estatística também se aplicam aos retornos e preços das crypto-moedas?

Para entender estas questões, além de suas peculiaridades e limitações, pesquisadores do Coppead/UFRJ analisaram as séries históricas das seis moedas virtuais mais importantes: Bitcoin, Ethereum, Ripple, Litecoin, Stellar e Monero, que juntas representavam aproximadamente 77,4% da capitalização de mercado na ocasião da realização do estudo (agosto/2015-janeiro/2020).

Os resultados permitem ao investidor uma visão mais ampla do comportamento dos cripto-ativos, inclusive em relação ao primeiro semestre de 2020, considerado a pior fase da pandemia de covid-19 para a economia brasileira.

Professora Beatriz Mendes

De acordo com a professora Beatriz Mendes, coordenadora do estudo, o trabalho é o primeiro a aplicar um conjunto abrangente de abordagens de modelagem estatística – misturas, ARFIMA-GARCH, cópulas e modelos VAR cointegrados – a um conjunto atualizado das seis criptomoedas mais importantes, mais o Euro.

“Desta forma, conseguimos responder algumas perguntas que ainda eram dúvidas para o mercado”, explica a professora, que realizou a análise com o pesquisador André Carneiro.

Segundo Beatriz, assim como os ativos financeiros reais, as volatilidades das criptomoedas podem ser bem capturadas por algum modelo da família GARCH, produzindo assim medidas precisas de risco.

“Embora para as criptomoedas as caudas da distribuição condicional GARCH sejam mais pesadas do que aquelas encontradas para ações e taxas de câmbio, esses ativos, no entanto apresentam os mesmos fatos estilizados, incluindo memória longa na volatilidade e uma persistência alta”, completou.

Força da interdependência

O estudo indicou que a força da interdependência no cripto-mercado aumentou nos últimos anos. “É um mercado cointegrado que em épocas de crise pode-se mostrar altamente correlacionado, com quedas extremas simultâneas sendo medidas por correlações em torno de 0.75.”, explicou ela.

A análise também confirmou que as sequências de retornos positivos (drawups) na maioria das vezes não caracterizavam bolhas especulativas, e que as somas dos ganhos consecutivos eram maiores do que a soma das perdas consecutivas.

“Embora a magnitude dos drawdowns (e drawups) fossem menores para o Bitcoin, elas eram de 10 a 20 vezes maiores do que os valores observados para o Euro”, afirmou, completando que as seis crypto-moedas também apresentaram importante episódios de drawups simultâneos.

Criptomoedas: comparativo

No comparativo entre o primeiro semestre de 2020 (altamente impactado pela pandemia de covid-19) e o mesmo período do ano passado foi identificado que os preços de todas as criptomoedas apresentaram uma tendência de alta nos primeiros dois meses deste ano, após uma perda dramática de valor durante todo o segundo semestre de 2019.

Entretanto, após uma queda extrema simultânea de aproximadamente 61% para todas as seis crypto- moedas em março de 2020, os preços estabilizaram aleatoriamente em torno de novos patamares, inferiores, porém aos alcançados em 2017.

“É interessante observar que, apesar da ocorrência de um retorno negativo atípico de março/2020, o retorno acumulado no primeiro semestre de 2020 é positivo para todas as criptomoedas, exceto XRP, enquanto foi negativo e significativo em 2019/2 para todos as criptomoedas. Por exemplo, para Bitcoin e Ethereum os retornos acumulados de um semestre foram, respectivamente, 27,4% e 74,7% em 2020/1, e -32,4% e -56,1% em 2019/2”, explicou, elencando que também fez vários outros cruzamentos de dados, identificando padrões dinâmicos das medidas de dependência através de janela móveis.

Resultados

Os resultados desta pesquisa foram publicados no Journal of Risk and Financial Management e permitem que o investidor possa gerenciar os riscos ao mesmo tempo em que identifica oportunidades de investimentos mais rentáveis.

“O crypto-mercado ainda está na sua infância, mas cresce rapidamente, com suas crypto-moedas mais importantes apresentando estatísticas em níveis bastante parecidos com aqueles apresentados por moedas/ativos reais negociados nos mercados maduros”, conclui a pesquisadora.