A Petrobras é, de longe, a empresa mais falada de todo o Brasil. Historicamente, também é uma das mais importantes de todas, junto com Vale, Ambev, Itaú e Bradesco, que fazem parte das grandes da bolsa brasileira nas últimas décadas.
Uma estatal de capital aberto, a Petrobras esteve envolvida em algumas das grandes discussões do Brasil nos últimos anos, da forte corrupção que foi descoberta na Lava Jato até a polêmica política de preços. Isso prejudicou fortemente a percepção do mercado sobre ela e também o valor dela: em 2009 ela valia mais do que a Microsoft. Hoje a Petrobras vale cerca de US$ 70 bilhões, enquanto a Microsoft tem valor de mercado de US$ 2,5 trilhões.
Pelo fato de ser controlada pelo governo, a Petrobras é uma empresa que não reflete apenas o preço do petróleo e suas operações, mas também a política brasileira. A simples perspectiva de privatização é possível de fazer os papéis da Petrobras dispararem, enquanto sinalizações contrárias fazem a ação ficar parada.
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Plano de negócios
A exploração e a produção de petróleo e gás natural são as atividades centrais da Petrobras, além do refino e distribuição dos combustíveis. A companhia constantemente busca novas áreas de petróleo em território nacional: foi assim com as águas profundas da Bacia de Campos na década de 70 e com o pré-sal, a partir dos anos 2000. Atualmente, a maior parte das reservas de petróleo da Petrobras está localizada em campos marítimos, o que leva a empresa a perfurar cada vez mais fundo.
Com o petróleo bruto extraído, a empresa o transforma em produtos utilizados por toda a populaçãoo brasileira. Atualmente a Petrobras conta com 13 refinarias, distribuídas por todo o território nacional, além de uma unidade de processamento de xisto, no Paraná, e o Gaslub, que ainda está em fase de obras. O parque de refino da empresa produz diversos derivados diferentes, como diesel, gasolina, nafta, querosene de aviação, gás liquefeito de petróleo, lubrificantes, além de outras substâncias…
Produzir derivados de petróleo envolve, basicamente, três processos principais:
O começo é a destilação, para separar os derivados: o petróleo é aquecido, em altas temperaturas, até evaporar. A partir daí, o vapor volta ao estado líquido em diferentes níveis dentro da torre de destilação. Para cada nível há um recipiente que coleta um determinado subproduto do petróleo. O segundo ponto é a conversão, que transforma partes mais pesadas em moléculas menores, dando origem a derivados mais nobres. E por fim, existem os processos de tratamento, que servem para adequar os derivados à qualidade desejada – por exemplo, removendo enxofre. Com isso, os combustíveis criados por esses processos são vendidos para as distribuidoras (o famoso “preço na refinaria”) que os revende para os consumidores. Os principais derivados são:
Gasolina
A gasolina vendida nas refinarias é misturada com Etanol Anidro ao chegar nos postos de todas as bandeiras diferentes. Portanto, no preço que o consumidor paga está incluído o preço de realização da Petrobras, o custo do etanol e os custos e as margens de comercialização das distribuidoras e dos postos revendedores, além de impostos federais, estaduais e municipais.
Diesel
Assim como a gasolina, o diesel brasileiro não é puro: ele é misturado com o biodiesel, um combustível renovável produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais. Juntos, eles formam o óleo diesel “B”, que é revendido nos postos. No preço que o consumidor paga no posto, portanto, além dos impostos federais, estaduais e municipais e da realização Petrobras, estão incluídos também o custo de aquisição do biodiesel e os custos e margens de comercialização das distribuidoras e dos revendedores.
Gás Liquefeito de Petróleo
Outro derivado relevante, é o gás liquefeito de petróleo, mais conhecido como GLP ou gás de cozinha. Ele pode, após ser adquirido pelas distribuidoras, ser revendido para o segmento industrial ou para clientes dos segmentos comercial, residencial e institucional. No preço do botijão pago pelos consumidores nos pontos de revenda estão incluídos os custos e as margens de comercialização das distribuidoras e dos pontos de revenda, além de todos os impostos devidos, sejam eles federais, estaduais ou municipais.
Investimentos robustos nos próximos anos
Como uma das principais empresas do Brasil, a Petrobras é uma das campeãs de investimentos na economia nacional e importantíssima para o desenvolvimento brasileiro. Nos próximos cinco anos, a empresa tem investimentos programados de US$ 68 bilhões, que é um valor 24% superior ao mesmo período do plano anterior.
No segmento de exploração e produção – onde o grosso desses recursos deve ser aplicado -, a companhia deve investir US$ 57 bilhões entre 2022 e 2026. A companhia estima que nos próximos anos entrem em operação 15 novas plataformas em seis campos diferentes. A empresa ressalta que todos os projetos considerados apresentam viabilidade econômica mesmo em um cenário de preço do petróleo de US$ 35 por barril no médio e longo prazo.
Com os investimentos, a empresa prevê um crescimento significativa da produção diária petróleo, pulando de 2,7 milhões de barris de óleo equivalente em 2022 para 3,7 milhões em 2026.
Refino, Comercialização e Logística
Na área de Refino, a Petrobras prevê investimentos de US$ 6,1 bilhões nos próximos cinco anos. Desse dinheiro, US$ 1,5 bilhão será gasto na integração entre a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e o GasLub Itaboraí. A intenção é usar essas duas estruturas para a produção de derivados de alta qualidade e óleos básicos, seguindo a demanda cada vez maior do mercado brasileiro de lubrificantes.
Outro bilhão será gasto na conclusão da segunda unidade da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). Com isso a empresa possibilita a ampliação da produção dos atuais 115 mil para 260 mil barris por dia (bpd) em 2027.
Também haverá investimento de US$ 1 bilhão previsto para a área de Gás e Energia. A ideia é concluir a Unidade de Tratamento de Gás (UTG) Itaboraí, com previsão de entrada em operação em 2022, além de manutenções e paradas programadas dos ativos. Já a área de Comercialização e Logística, o investimento de US$ 1,8 bilhão vai se destinar principalmente à continuidade operacional, focada em um ambiente cada vez mais competitivo.
Sustentabilidade e descarbonização
A empresa separou US$ 2,8 bilhões para redução e mitigação de emissões. Esse valor inclui investimentos em eficiência operacional através de projetos para mitigação das emissões (escopos 1 e 2), bioprodutos (diesel renovável e bioquerosene de aviação) e pesquisa e desenvolvimento. Estes projetos contribuirão para a ambição da empresa de atingir a neutralidade das emissões de gases de efeito estufa das operações sob seu controle.
Estão previstos investimentos na área de Transformação Digital e Inovação da ordem de US$ 1,6 bilhão entre 2022 e 2026, focando em eficiência, conformidade ambiental, segurança das operações e nos compromissos com os preceitos da sustentabilidade.
Da Era Vargas aos tempos modernos
A companhia é uma estatal formada ainda na década de 50, na Era Vargas, e passou por muita coisa durante as sete décadas de atuação que ela já tem – do primeiro óleo extraído ao caminho do pré-sal, passando pela crise do petróleo, megacapitalização, suposta autosuficiência e Lava Jato.
A empresa foi instituída pela Lei nº 2 004 e sancionada pelo então presidente da República, Getúlio Vargas, em 3 de outubro de 1953 – depois de longa campanha nacionalista do “Petróleo é nosso”. A lei dispunha sobre a política nacional do “ouro negro”, com a definição as atribuições do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), estabelecendo o monopólio estatal do petróleo e a criação da Petrobras.
Nestes primeiros anos a companhia frustrou as expectativas do mercado nacional com descobertas tida inicialmente como promissoras, mas que não andaram para frente. Em 1955 começou a produzir petróleo em Nova Olinda do Norte, às margens do Rio Madeira, com três poços diferentes, que mais tarde não se mostraram em condições de produzir comercialmente e acabaram fechados. Outra grande descoberta foi na Bacia do Tucano, no Maranhão, mas essa também não se mostrou produtivo. O fracasso da empresa nestes primeiros anos foi tanto que o chefe da exploração, o géologo norte-americano Walter Link, teve de sair do país às pressas, sob acusações de sabotagem.
A Petrobras, ao longo dos governos do regime militar teve sua atuação ampliada. Nesta época se construíram novas refinarias, de oleodutos e gasodutos. Em 1967, no início do governo militar, foi criada a primeira subsidiária da companhia: a Petroquisa, com forte atuação no setor petroquímico. Em 1971 foi a vez da rede de postos de combustíveis da empresa se tornar uma outra subsidiária, nesse caso a BR Distribuidora, privatizada em 2021 – e que hoje virou Vibra Energia.
Em 1972 surgiu a Braspetro, para explorar petróleo no exterior. A companhia realizaria, em 1976, uma das maiores façanhas de uma empresa brasileira no exterior ao descobrir o megacampo de Majnoon no Iraque, que sozinho era mais do que 90% de todas as reservas da Petrobras na época – e infelizmente não foi desenvolvido pela empresa brasileira.
A Primeira crise do petróleo no final de 1973, resultando no aumento do preço do barril no mercado internacional, fez com que Presidente Ernesto Geisel, que anteriormente já tinha sido presidente da Petrobras e tinha afinidade com o setor de óleo e gás, abrisse, em 1975 a prospecção de petróleo no Brasil sob contratos de risco para que outras empresas fizessem a exploração. Esse foi o primeiro passo para o fim do monopólio.
Depois de um monopólio de 40 anos na exploração, produção, refino e transporte do petróleo no Brasil, a Petrobras passou a competir com outras empresas estrangeiras e nacionais em 1997, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei N° 9 478, de 6 de agosto de 1997, efetivamente acabando com o monopólio. Tal lei regulamentou a redação dada ao artigo 177, §1º da Constituição da República pela Emenda Constitucional nº 9 de 1995, permitindo que a União contratasse empresas privadas para exercê-lo, com isso foram criadas Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pela regulação, fiscalização e contratação das atividades do setor e o Conselho Nacional de Política Energética, órgão encarregado de formular a política pública de energia.
Em 2005, outro momento importantíssimo para a companhia: a empresa chegou pela primeira vez na camada do Pré-sal, ainda em caráter experimental, com a retirada de petróleo considerado de boa qualidade. Em 2006, o Brasil alcançou a autossuficiência temporária em petróleo, o que acabou sendo perdida nos anos seguintes – já que o aumento do consumo foi maior do que o aumento da produção.
Já em 2007, a empresa descobriu o maior campo de óleo e gás natural do Brasil, no campo de Tupi, na Bacia de Campos, com volume de aproximadamente 5 bilhões a 8 bilhões de barris, ou 12 bilhões de barris de óleo equivalente. Para explorar esse megacampo e o pré-sal, a empresa realizou uma megacapitalização na B3, levantando recursos – muitos desses recursos foram perdidos em corrupção, descoberta pela Lava Jato em anos posteriores.
Mesmo com todos os problemas na última década, o pré-sal é um sucesso e responde por 50,7% do total de barris de petróleo e gás natural extraídos no país, segundo dados da ANP. Até 2012, o pré-sal ainda representava menos de 10% da produção total nacional.