O mercado de fusões e aquisições no Brasil (M&A) poderá ser impulsionado pelo câmbio, segundo Roossewelth Baldez, sócio da Baker Tilly Brasil.
Isso porque a Baker Tilly International, juntamente com o provedor de inteligência de fusões e aquisições Mergermarket, divulgou nova pesquisa Global Dealmakers: North American M&A Market Update 2020 que examinou as opiniões de 60 negociadores para avaliar opiniões sobre oportunidades, tendências e desafios de fusões e aquisições na América do Norte.
“Embora as transações não tenham parado completamente em meio à crise sanitária decorrente da Covid-19, os números dos negócios caíram drasticamente em relação a 2019. Os negociadores estão colocando M&A em compasso de espera até que haja uma maior segurança em relação à pandemia e seus reflexos”, disse.
Percepção
Para ele, a percepção é que, independentemente do setor de atuação das empresas-alvo, ativos estressados e valorizações depreciadas surgirão em um cenário no qual as companhias lutam para se recuperar de perdas de receitas e de interrupções operacionais.
“Buscando se fortalecer contra a recessão e as novas complexidades de mercado, líderes já se posicionam avaliando estratégias de consolidação para fusões completas”, destacou.
E diz mais: “outros participantes da pesquisa sinalizam que o próximo ano será a hora do private equity brilhar.”
Isso porque com quantidade recorde de ativos baratos à disposição, os entrevistados concordam que aquisições e grandes movimentos de compradores serão uma tendência, criando competição por ativos e reforçando transações de M&A.
Perspectiva
De acordo com o especialista, a perspectiva é que as próximas fases de M&A ocorram em quatro ondas, que podem se sobrepor.
“A primeira onda envolverá negócios em andamento, envolvendo empresas que têm sido relativamente pouco ou não afetadas pela pandemia. A segunda pode ser em grande parte impulsionada por companhias em dificuldades e por desinvestimentos, com alienação de unidades não essenciais ao core-business. A terceira vai ser liderada por empresas com bom desempenho durante a crise da Covid-19 e bem posicionadas no mercado no final de 2020 e em 2021. A quarta onda e, eventualmente as subsequentes, terão alguma aparência a um retorno ao normal”, elencou.
Brasil
No Brasil, o movimento dos negociadores externos de M&A pode ser impulsionado pelo efeito cambial.
A apreciação da moeda americana frente ao real torna os ativos (já depreciados pela pandemia) ainda mais baratos em dólar.
Cabe, no entanto, ressaltar que o impacto positivo do câmbio aos compradores internacionais na precificação dos ativos deve ser parcialmente compensado por taxas de desconto cuidadosamente avaliadas e mais conservadoras, em face das maiores incertezas nas projeções financeiras.
Além do incremento do custo do capital, na medida em que os bancos podem restringir recursos às transações de M&A, diante de um maior risco de crédito.
“O contexto evidencia a importância de uma adequada e aprofundada condução dos processos de valuation e due diligence”, frisou.
Setores resilientes como geração de energia e agronegócio historicamente são alvo do interesse de investidores internacionais.
É possível, ainda, que haja consolidações em segmentos não essenciais, como hoteleiro, entretenimento e shopping centers, com empresas capitalizadas buscando ampliar atuação.
“Em paralelo, transações que já possuíam tratativas de precificação em curso antes a pandemia da Covid-19 têm sido alvo de revisões, como recentemente ocorreu em dos principais shopping centers do Espírito Santo. Em fato relevante publicado em 08 de setembro de 2020, o fundo adquirente revelou que, com a crise, os termos da transação foram renegociados. O documento cita, ainda, que o preço da aquisição foi por valor substancialmente abaixo do custo de reposição do ativo”, destacou.
E concluiu: “diante dos movimentos internacionais, combinados a fatores econômicos e, principalmente, às oportunidades em diversos segmentos, o mercado de fusões e aquisições no Brasil se apresenta como um importante direcionador na retomada dos negócios pós-pandemia.”