O economista Matheus Jaconeli, da Nova Futura Investimentos, se dedica a acompanhar e analisar a economia brasileira diariamente. A pedido do 1Bilhão, ele analisa os riscos fiscais e a Bolsa de valores.
Política econômica
A condução da política econômica é um importante fato que deve ser levado em consideração na decisão de investimentos, pois a depender de como a política econômica é conduzida, alguns ativos tendem a se valorizar ou se depreciarem, tendo em vista suas características.
No mercado de ações, assim como em outros mercados, apesar de muitos investidores e, em alguns casos, apenas olharem para múltiplos ou para os indicadores financeiros das companhias, o cenário econômico contribui muito para melhorar a análise e deixa-la aderente à realidade do país, permitindo que o oportunidades de investimentos ou, até mesmo, mitigação de possíveis riscos.
Assim, dentre outros fatores econômicos, é essencial que o investidor entenda os efeitos do lado fiscal da economia pode gerar em seus investimentos.
- Situação atual:
O orçamento do governo, como no de uma família ou de uma empresa é composto por receitas e despesas. O governo ganha receitas por intermédio de impostos, contribuição social e doações. As despesas são por juros, subsídios, benefícios sociais, consumo (gasto) governamental, uso de bens e serviços. Assim, o objetivo do governo é manter tais contas equilibradas, pois países que possuem sólidos fundamentos fiscais possuem menor risco percebido, fazendo com que os investimentos nesses países sejam mais atrativos. Como forma de financiar os gastos, o governo pode se utilizar do endividamento que se baseiam em empréstimos junto ao mercado. Conforme o endividamento, principalmente de um país subdesenvolvido, se eleva muito em relação ao PIB, o risco percebido para em relação ao país aumenta, pois mostra que o país está fazendo mais esforço para pagar suas contas, de modo que não consiga pagar seus custos com a receita gerada. Como na pandemia foi necessário fazer a ampliação dos gastos para sustentar a demanda agregada, a trajetória de diminuição de risco fiscal diminuiu, como pode ser vista pelo comportamento do DI com vencimento para janeiro de 2027:
Conforme os receios quanto à condução da política fiscal sobe, a taxa de juros negociada para o futuro, em que os agentes colocam suas expectativas em relação à sustentabilidade da dívida pública, condições econômicas e fiscais do país estão piorando, pois mostra que é exigido uma taxa de juros mais elevada para investir no país. A taxa de juros de longo prazo, além de mostrar que o mercado exige mais para que o Estado seja financiado, também evidencia que o mercado de capitais como um todo é mais arriscado, gerando impacto em várias categorias de investimentos.
É possível ver que o comportamento da taxa de juros de longo prazo, apesar de mais volátil, por levar em conta as expectativas dos agentes econômicos, condiz com o comportamento de indicadores fiscais como a Dívida Líquida do Setor Público em percentual do PIB.
Por isso o mercado enxerga como essenciais as reformas estruturais e as privatizações. Todavia, as incertezas quanto à condução do programa de renda permanente e quando as reformas e projetos focados no enxugamento do Estado ocorrerão continuam mantendo o risco percebido em relação ao brasil elevado.
- Bolsa de valores:
A bolsa de valores é impactada pelo aumento do risco fiscal, principalmente em um momento de crise como o de agora, porque o prêmio de risco exigido por ativos de países subdesenvolvidos passa a subir. Como o prêmio de risco é um fator importante na avaliação dos ativos, isto é, para avaliar o preço de uma ação o mercado se utiliza dessa taxa de desconto, de modo que quando ela sobe, o valor trazido a valor presente do ativo caia. Outro dado importante é o de que o crescimento econômico, em um ambiente fiscal adverso, também fica comprometido e a taxa de crescimento das companhias tendem a acompanhar a taxa de crescimento da economia.
Risco e impacto
Em termos de companhias em específico, o aumento do risco fiscal pode impactar negativamente companhias com dívida em dólar e de empresas canalizadoras de dívida estatal.
Dentre as companhias canalizadoras de dívida, podemos destacar os bancos. O setor financeiro é um grande credor do Estado, principalmente no Brasil, que temos poucos grandes bancos. Assim, quando há aumento do risco fiscal, a capacidade de pagamento do país para os bancos diminui, impactando negativamente o desempenho dessas companhias.
Câmbio
No caso do câmbio, o dólar se valoriza frente ao real, quando a demanda de dólares é superior à demanda por reais. Quando o prêmio de risco para investir em um país é muito elevado, não compensando o investimento que será realizado. O aumento do risco para investir no país, entre outras coisas, depende do risco fiscal, que pode ser visto pela trajetória da dívida. Quando o risco global está elevado, os investidores globais, tendem buscar ativos que compensem o risco ou que sejam menos arriscados. Durante a pandemia, principalmente em seu auge isso foi visto, pois houve venda de reais e compra de dólar para investir em ativos estrangeiros. Tanto que entre janeiro e a metade de maio (dia 14), o ponto mais elevado da pandemia no Brasil, juntamente com a as incertezas de como o governo lidaria com a crise, houve elevação de 188%. Do mesmo modo, janeiro e fevereiro a bolsa teve seu recorde, atingindo os 120.000 pontos.
É possível ver que o comportamento entre o dólar e a bolsa é inversamente proporcional evidenciando o movimento de compra por dólares para adquirir ativos mais seguros. Companhias que tiveram um bom desempenho foram as exportadoras ne bens cujo cuja demanda é pouco sensível à variação nos preços, pois como a receita é dólar, teve aumento de seus ganhos.
Apesar do aspecto fiscal se de suma importância para a decisão de investimento, outros aspectos devem ser levados em consideração, como a rotação de mercado ou fatos que sejam relevantes para criar melhora nas expectativas dos agentes. Atualmente, o noticiário em torno da vacina, estímulo fiscal nos Estados Unidos e a própria busca de ativos descontados, podem contribuir para o desempenho de ativos brasileiros.
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