A MAPFRE Economics, área do Grupo MAPFRE dedicada a pesquisas e análises sobre seguros, previdência, macroeconomia e finanças, prevê que a economia mundial sofrerá uma retomada de 4,5%, em média, em 2021 e 2022, e que a atividade econômica voltará ao normal em meados do terceiro trimestre deste ano, embora, em seu conjunto, o mundo não recuperará o que se perdeu na crise até meados de 2022. As informações são apresentadas no relatório Panorama Econômico e Setorial de 2021: perspectivas para o primeiro trimestre.
O estudo revela que a recuperação do nível do PIB de 2019 chegará mais cedo nos países que mais ofereceram apoio aos rendimentos em 2020 e 2021. Os Estados Unidos estão em primeiro lugar, seguidos pelo Brasil. “As outras regiões ou países (União Europeia, América Latina e Espanha) estão muito atrás, em razão de sua estrutura produtiva e da natureza dos estímulos recebidos”, afirmam os especialistas.
A retomada
A retomada, portanto, acontecerá com grandes diferenças regionais. A América Latina tem sido a região mais afetada pela Covid-19, tanto pela demora da resposta econômica (pouco espaço fiscal) quanto pela baixa preparação na área da saúde e pelos desequilíbrios e vulnerabilidades existentes (economias fracas, fragilidades externas, dependência do ciclo de matérias-primas e do setor turístico).
“Houve uma redução permanente das expectativas de crescimento, de 3%, propostas há um ano, para -8,1% hoje”, afirma o relatório. “A pobreza aumentou de 23% para 30% da população, quase 3 milhões de PME fecharam e foram perdidos, aproximadamente, 9 milhões de empregos. O crescimento per capita da América Latina estagnou desde 2015 e, após a crise atual, espera-se que o rendimento per capita recupere o nível de 2015 em 2025”, conclui.
Perspectivas para o Brasil
O Brasil é o segundo país que se recupera no cenário central abrangido pelo estudo, dada a relativa frouxidão de suas medidas no auge dos contágios e também porque as medidas adotadas, assim como nos Estados Unidos, tiveram uma forte componente de transferência de rendimentos no início da crise (os rendimentos disponíveis aumentaram nos EUA, apesar da queda do PIB).
A partir de 2021, uma das questões mais importantes será a continuidade dos auxílios de emergência chamados “Coronavoucher”, embora sejam insustentáveis do ponto de vista fiscal. Assim, a equipe do presidente Jair Bolsonaro precisará encontrar uma fórmula para evitar uma interrupção abrupta que provoque um grande impacto na economia. “Esperamos que o PIB volte a atingir 3,2% este ano, após uma queda estimada de 4,7% em 2020, e que chegue a 2,7% em 2022”, afirma Oscar García-Serrano, Diretor Geral da MAPFRE Investimentos.
Estados Unidos e Eurozona
Para os EUA, uma economia que, de acordo com a MAPFRE Economics, irá recuperar os níveis de PIB pré-pandemia já no final deste ano, espera-se um crescimento de 3,9% em 2021, superior aos 3,3% estimados no trimestre anterior e dos 2,8% em 2022. Apesar das tensões crescentes que se seguiram aos últimos acontecimentos no Capitólio, os mercados financeiros mantiveram-se estáveis. Nesse sentido, as compras de ativos pelo Federal Reserve (Fed) ajudaram a promover o bom funcionamento do mercado e as condições financeiras ajustáveis, possibilitando o apoio ao fluxo de crédito para as famílias e as empresas. O comitê de política monetária continuará avaliando os dados econômicos e sua influência nas perspectivas.
Com o novo presidente, espera-se uma reversão das políticas protecionistas dos EUA, com um menor confronto com a China, que, por outro lado, não vinha cumprindo o tratado comercial assinado, e menos animosidade com a União Europeia, tanto comercialmente quanto em relação à OTAN. “Espera-se também um retorno dos EUA aos acordos de Paris sobre o clima”, afirma. “Em termos geopolíticos, ficaremos atentos à posição da nova administração a respeito da presença militar em conflitos do Oriente Médio, e estamos preparados para nos surpreender com a retomada do financiamento à OMS.”
Crescimento na região
Para a Eurozona, a MAPFRE Economics espera um crescimento de 5%, em 2021, e de 4,7%, em 2022. Ao que tudo indica, no segundo semestre de 2021, os fundos europeus começarão a ser ativados, e uma maior proporção da população começará a ser imunizada. “À medida que os meses avançam, a experiência adquirida em nível médico também proporcionará um aumento da eficácia das curas. A combinação entre profilaxia (vacinas) e aumento da eficácia de curas e tratamentos precoces promoverá reduções nas taxas de mortalidade e permitirá um retorno gradual à normalidade”, observam.
Os riscos para a economia da Eurozona são os surtos de pandemia recorrentes que obriguem a novas restrições, ou a lentidão na normalização das atividades por conta de um programa de vacinação implantado mais tardiamente que o previsto. A recuperação das exportações também é vital, o que ainda depende dos níveis de atividades de seus parceiros comerciais. Além disso, a Eurozona será afetada pelo Brexit, que resultará em diferentes tipos de problemas no comércio e nas cadeias de produção. A capacidade de mobilização dos fundos de auxílio é outra incerteza, pois a profundidade dos danos causados pela crise ao setor empresarial, ao emprego e ao setor financeiro ainda está por vir.
Riscos para a economia mundial
São enormes desafios decorrentes das cicatrizes de uma crise sem precedentes ocorrida em um contexto de desequilíbrios e vulnerabilidades globais. Embora, em alguns casos, a Covid-19 possa funcionar como um acelerador de correções, na maioria dos casos, ela representa uma pressão adicional sobre o nosso cenário de riscos. “Embora o aparecimento das vacinas reduza a probabilidade de ocorrência precoce de alguns desses riscos, evitar os custos com: a) contas fiscais; b) desequilíbrios financeiros acumulados; c) problemas da estagnação; d) envelhecimento; e) mudanças climáticas; e f) deterioração social decorrente do desemprego estrutural e do aumento das desigualdades sociais etc., será audacioso”, apontam.
Entre os riscos, a equipe de economistas destaca o forte endividamento que causou a recessão, levando à taxa da dívida/PIB mundial a um novo patamar histórico de 356% no terceiro trimestre de 2020, contra 322% do quarto trimestre de 2019. No caso dos mercados emergentes, o maior impulso foi registrado no setor privado não financeiro (empresas e, em menor medida, famílias), enquanto nos mercados desenvolvidos a maior contribuição foi realizada no setor financeiro e nos governos. Em geral, a inércia em relação a uma maior alavancagem com a perturbação pela Covid-19, acompanhada de uma flexibilidade monetária e generalizada, prevalece em um ambiente de incerteza, cuja estabilização do serviço, no longo prazo, não é esperada para 2021.
- Só clique aqui se você já for investidor