4 especialistas do mercado financeiro comentam como a guerra comercial, PIB da Alemanha e crise argentina podem influenciar a economia brasileira
Os mercados ficaram agitados na última semana. Com as reformas em andamento e o cenário político interno relativamente tranquilo, são as pressões externas que se destacaram como principal causa da queda do Ibovespa para abaixo dos 100 mil pontos e o dólar no patamar de R$ 4,00. O cenário negativo fez o Banco Central (BC) atuar no câmbio, ato que não ocorria desde 2009. Especialistas do mercado financeiro comentaram sobre os resultados negativos.
Daniela Casabona, Sócia-Diretora da FB Wealth, afirma que as previsões do mercado sobre uma possível recessão global estão se confirmando. “O mercado ficou bem agitado após a confirmação de uma preocupação que vem sendo sinalizada desde o começo do ano. Os resultados da China e a contração do PIB da Alemanha balançaram o mercado e ligaram o sinal de alerta para uma desaceleração global. Além disso, ainda tivemos a pré-votação da Argentina que sinalizou com folga a vitória da oposição”, explica. Para Casabona, a recessão poderia atrapalhar os esforços para a retomada econômica do Brasil.
Para Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus, as incertezas no cenário externo resultaram na volatilidade dos indicadores como dólar e Ibovespa. “Tivemos um mercado muito volátil, com preocupação sobre os próximos passos das economias mais importantes do mundo, China e Estados Unidos. Depois os climas se amenizaram, com declarações de Trump sobre o adiamento das taxações dos produtos chineses. Internamente temos as notícias do BC, anunciando que vai começar a fazer vendas de dólares, justamente para conter a alta da moeda no Brasil. E para finalizar, tivemos a inversão da curva de juros américa, indicando sinais de recessão. Portanto, o mercado passou por muitos altos e baixos”, afirma Laatus.
O Diretor de Câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo, comenta sobre os indicadores negativos na economia, apesar de um cenário interno favorável. Para Bergallo, o cenário externo tem um peso muito maior e, portanto, está pressionando os mercados brasileiros. “Foi muita ensão no mercado financeiro, derrubando as bolsas, elevando o preço do dólar, muito por conta do cenário externo. O embate comercial dos EUA e China anda preocupando os investidores, sem nenhuma solução no horizonte. Com o agravante da crise na Argentina, um país emergente e importante no cenário internacional. Uma eventual projeção de vitória dos partidos de esquerda levanta dúvidas sobre o possível pagamento das dívidas internacionais, principalmente os empréstimos feitos junto ao FMI. Por conta disso, os mercados estão muito apreensivos. O BC não entrava a 10 anos nos mercados de dólar à vista para negociar reservas e fez isso para segurar a subida da moeda americana”, disse.
Segundo Pedro Coelho Afonso, Relações Internacionais e Economista-Chefe da PCA Capital, há sinais muito fortes de uma possível recessão global. “A economia da Alemanha é o carro chefe europeu. Os indicadores negativos e uma possível recessão a caminho são sinais muito negativos. A China até teve crescimento na produção industrial, porém o resultado é o pior em muitos anos. São muitos sinais de uma possível crise global à vista. Muito mais do que com a crise na Argentina, a economia brasileira pode ter muitos problemas com essa possível crise nos mercados globais”, finaliza.