ANÁLISE MODAL: Copom e a Selic

Taxa está em 13,75% ao ano

O Comitê de Política Monetária – COPOM, Banco Central do Brasil, deverá manter a taxa SELIC inalterada em sua 250ª reunião, que começa amanhã (25/10).

Ante a incerteza e os juros já elevados, cabe ao COPOM permanecer (com tranquilidade) no assento de passageiros. Nosso cenário já contempla a manutenção da taxa SELIC em 13.75% até julho do ano que vem. O risco maior é de deterioração do cenário fiscal ou do cenário externo, mas o Banco Central tem graus de liberdade para aguardar.

Comentário:

A reunião do COPOM ocorre em meio a incertezas que derivam de diversos fatores e mantêm a autoridade monetária às margens do fluxo de notícias. Não somente o elemento eleitoral será resolvido imediatamente após a 250ª reunião, mas o cenário externo torna-se incrementalmente mais desafiador. Além disso, a inflação abandona o trimestre de variações negativas e volta a apresentar comportamento que ensejam preocupação.

A discussão eleitoral evidencia os riscos fiscais antevistos para o ano de 2023. Por um lado, a perspectiva de alteração do arcabouço fiscal sugere riscos em seu processo de substituição (independente do formato utilizado).

Por outro lado, tanto o candidato à reeleição, como o concorrente prometem gastos adicionais para o ano de 2023.

Isto enseja dois fatores de preocupação relevantes para o COPOM. A incerteza quanto ao arcabouço futuro eleva prêmios de risco, pressionando a estrutura a termo e, consequentemente, o preço de equilíbrio dos ativos financeiros. A depender do resultado da discussão sobre a substituição, termina-se ainda com uma taxa de juros neutra mais elevada. Por outro lado, a perspectiva de mais gastos do governo no ano que vem pressiona a atividade econômica e, consequentemente, a inflação. Quando fiscal e monetário caminham em direções distintas, o segundo tem de fazer um esforço muito maior para atingir seus objetivos estabelecidos em lei.

A deflação do terceiro trimestre foi concentrada em administrados (-7.91% Q3), o que sem dúvida melhora a foto e reduz as projeções para o ano corrente. No entanto, ainda que exista relevante discussão sobre a inércia do IPCA fechado de 2022 para 2023, o bom momento cíclico da economia evidencia que a dinâmica observada em serviços e industriais deve perdurar. Portanto, a batalha da autoridade monetária para o horizonte relevante ainda não pode ser considerada vencida.

Altas nas expectativas para 2023, se materializadas, com certeza também impactarão os seis trimestres móveis usados nas reuniões 248 e 249 do COPOM.

Ainda nos determinantes internos, temos de pensar sobre o hiato. A discussão foi apresentada em nosso préCOPOM anterior e posteriormente no comunicado do COPOM. Há diversas hipóteses que corroboram um hiato mais fechado. Estas se estendem tanto por fatores que impactariam no produto potencial, como pela constatação da atividade realizada acima do esperado. As tabelas deste documento mostram nossas projeções de inflação no final de 2023 e 2024 sob diferentes expectativas de SELIC ao final do ano que vem e, principalmente lançando algum stress sobre o valor do hiato utilizado. O peso deste elemento nas projeções e o risco a ele relacionado ficam evidentes.

No cenário externo a perspectiva se deteriorou desde o último COPOM.

Ainda que as cadeias produtivas globais sigam em alívio, commodities energéticas e alimentícias parecem ter encerrado a queda que caracterizou a virada do semestre. Na demanda, a taxa de desemprego dos EUA permanece em patamar extremamente baixo.

A resultante desta combinação fica evidente na divulgação do último CPI. Para além das discussões sobre a defasagem do indicador de shelter, o discurso do FED aponta claramente na direção de mais juros e mais rapidamente.

Ante a incerteza e os juros já elevados, cabe ao COPOM permanecer (com tranquilidade) no assento de passageiros. Nosso cenário já contempla a manutenção da taxa SELIC em 13.75% até julho do ano que vem. O risco maior é de deterioração do cenário fiscal ou do cenário externo, mas o Banco Central tem graus de liberdade para aguardar. De toda forma, dada a dificuldade esperada para convergência da inflação à meta, o cenário de juros acima do neutro por um longo período permanece como base neste momento.

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