ANÁLISE MODAL: Cenário do FOMC

Cenário ainda aponta riscos para a convergência da inflação

O Comitê Federal de Mercado Aberto – FOMC, Federal Reserve, vem de uma sequência de duas altas de 75bps e deve implementar uma terceira desta magnitude na quarta-feira.

Ressaltamos que o cenário ainda aponta riscos para a convergência da inflação advindos principalmente do mercado de trabalho apertado.

Comunicação:

Na última reunião, o FOMC elevou a taxa de juros em 75bps. Caso se confirme a alta de 75bps desta reunião, esta será a primeira vez desde 1984 que o aperto será tão intenso em três reuniões consecutivas.

Em Jackson Hole, o presidente do Fed, Jerome Powell, enfatizou em seu discurso que restaurar a estabilidade de preços requer usar as “ferramentas com força”, movendo a taxa a um nível suficientemente restritivo para retornar a inflação à meta de 2%.

Também reforçou a intenção de pausar a trajetória da FFR nas estimativas da taxa neutra de longo prazo. Em outro momento, o registro histórico adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política, reforçou Powell.

Sobre atividade, reduzir a inflação provavelmente exigirá um período sustentado de crescimento abaixo do potencial, segundo o chair. Ainda assim, a comunicação recente do comitê reforça que a prioridade é a inflação.

As minutas da última reunião revelaram preocupação em relação ao risco de apertar a política monetária além do necessário. Contudo, os membros reconheceram que ainda há pouca evidência de que as pressões inflacionárias estejam arrefecendo.

Todas as aparições públicas de membros do comitê endossaram o discurso de Jackson Hole, antecipando que a política monetária mais restritiva provavelmente desacelerará o crescimento econômico e moderará o mercado de trabalho. Entre eles, destaca-se o discurso de James Bullard (Fed St. Louis), que começa a ver algum impacto do movimento do Fed, mas também vê a inflação com maior persistência do que o mercado. Sua visão respalda a nossa de que a FFR precisa ficar mais alta por mais tempo.

Antevemos outra alta de 75bps e a possibilidade de antecipação do mesmo movimento para a próxima reunião. Esperamos que o FOMC encerre o ciclo de altas da taxa de juros em 4,50%-4,75% no começo do ano que vem e mantenha o patamar elevado por mais tempo.

Nessa reunião, será atualizado o sumário das projeções econômicas (SEP, na sigla em inglês). Esperamos que sejam feitas revisões substanciais na FFR (projeção de junho: 3,4% para 2022 e 3,8% para 2023) e no PCE (projeção de junho: 5,2% para 2022 e 2,6% para 2023).

Mercado de Trabalho e Atividade

A divulgação do establishment report do Payroll de agosto ficou acima do esperado. Contudo, destaca-se que as duas últimas divulgações foram revistas para baixo, totalizando -107k empregos. Dessa forma, a média móvel de três meses do headline caiu para 378k (vs. 402k anterior).

A taxa de desemprego se moveu para 3,9%, 0,1 p.p. abaixo da meta de longo prazo do FOMC.

Parte desse movimento pode ser atribuído ao aumento da taxa de participação (atualmente em 62,4%). Adicionalmente, houve desaceleração de salários no período, mostrando sinais preliminares de alívio no mercado de trabalho.

Em relação à atividade, as evidências anedóticas coletadas tanto pelo ISM quanto pelo Beige Book indicam crescimento modesto desde o último FOMC. No entanto, os riscos para a atividade à frente ficam evidentes na leitura dos índices cíclicos. Destaca-se sobretudo, a deterioração dos índices de produção do ISM Manufacturing.

Inflação

A última leitura do CPI dos Estados Unidos veio em 0,1% m/m, novamente acima da mediana do mercado (-0,1%). A leitura subjacente também surpreendeu positivamente, saindo de 0,3% para 0,6%, ante expectativa de 0,3%.

A composição do headline revelou uma queda concentrada em commodities energéticas, compensando em parte as altas de serviços de energia, de alimentos e do core.

A leitura subjacente foi negativa qualitativa e quantitativamente, especialmente dentro de serviços, onde mesmo removendo Moradia observou-se 0,11 p.p. de contribuição ao headline.

No índice de confiança do consumidor, medido pela Universidade de Michigan e acompanhado de perto pelo Fed, a expectativa de inflação um ano à frente caiu de 4,8% para 4,6%, o menor valor desde setembro de 2021. No intervalo de 5-10 anos, o número caiu de 2,9% para 2,8%.

Vale ressaltar que o índice de incerteza acerca da inflação de curto prazo atingiu o maior valor desde 1982, levantando dúvidas sobre a sustentação das melhorias observadas na trajetória das expectativas.

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