A precificação de criptomoedas vem recebendo atenção significativa, seja por envolver tecnologia de expressiva disseminação, seja por fugir da precificação por fluxo de caixa descontados dos ativos tradicionais.
Giovana Pinheiro Resende, analista de projetos da Dock Soluções em Meios de Pagamento, afirma que a literatura teórica sugere uma série de fatores potencialmente importantes na valorização das criptomoedas. Em uma lista não exaustiva, quatro linhas de estudo podem ser destacadas. A primeira constrói modelos enfatizando o efeito de rede da adoção de criptomoedas e realça a dinâmica de preços induzida pela externalidade positiva desse efeito. A segunda se concentra no lado da produção das moedas e mostra que a evolução dos preços das criptomoedas está ligada ao custo marginal de produção. A terceira vincula os movimentos dos preços das criptomoedas aos das classes tradicionais de ativos, como o dinheiro fiduciário. A quarta engloba temas sobre os padrões empíricos na precificação.
Letícia Moreira de Carvalho, pesquisadora em cripto e coordenadora de faturamento da TopFrio, acrescenta que algumas publicações argumentam que a evolução dos preços das criptomoedas não segue um padrão, e, portanto, seus retornos não são previsíveis. Porém, outros artigos, apontam que, em modelos dinâmicos de avaliação, estes retornos poderiam potencialmente ser previstos por alguns fatores. Pressupondo que os retornos podem ser previstos, o que poderia ajudar a explicar a recente queda dos preços das criptomoedas?
Pela abordagem dos fatores de rede, seguindo a lei da demanda, o crescimento dos usuários da carteira, do número de transações atual e esperado, da atenção, busca e expectativa de retornos futuros são variáveis significantes. Na abordagem dos fatores de produção, avaliando tokens utilitários, o equilíbrio geral está ligado ao custo marginal da mineração. Tokens utilitários são um tipo especial de token que ajuda a capitalizar ou financiar projetos para startups, empresas ou grupos de desenvolvimento de projetos.
Considerando a literatura existente e os dados observados, descrevo alguns achados recentes que os dados revelam. Em primeira análise, o fator que se mostra relevante são os juros dos títulos soberanos dos Estados Unidos. O que chama atenção é que, apesar das principais linhas de pesquisa argumentarem que o preço das criptomoedas é explicado pelo uso corrente ou futuro em ambientes virtuais, está sendo observado que o ambiente da economia real é que apresenta correlação empírica. As quedas dos preços do Bitcoin, da Ethereum e da Ripple se apresentaram inversamente relacionadas com o recente ciclo de alta de juros dos títulos norte-americanos. Por dualidade, observa-se que no movimento contrário, quando houve a expansão monetária por conta da pandemia (2020), as maiores altas dessas criptos foram constatadas por meio do Terminal Bloomberg.
Os modelos com demais fatores ainda estão sendo calibrados, porém essa primeira constatação encontra subsídio na teoria monetária de Keynes. Assim, quanto maior a taxa de juros, maior a compra de títulos e menor a demanda de moeda para especulação.
*Maurício Takahashi é professor de finanças e métodos quantitativos na Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville.
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