ANÁLISE: BBI avalia Carteiras

Sinais advindos do exterior também ajudam a diminuir o apetite dos estrangeiros

O nível de desconto da bolsa de valores do Brasil, um dos maiores entre os emergentes, ainda implica em elevado potencial de retorno para o Ibovespa no médio prazo, mas reconhecemos que a ausência de impulsionadores de curto prazo limita uma visão mais construtiva sobre os fundamentos das companhias, especialmente em relação à rodada de revisões de estimativas de lucros atualmente em curso. No agregado, as projeções de lucro por ação para os próximos 12 meses das companhias que compõem o índice tiveram um recuo de 4,6%, consistente com a visão neutra que tivemos sobre a temporada de resultados do 2T23.

Cenário externo

Os sinais advindos do exterior também ajudam a diminuir o apetite dos investidores estrangeiros, cuja retirada de capital no mês soma R$ 1,6 bi até o último dado disponível. Nos EUA, o mercado ainda diverge sobre a orientação do FOMC (comitê de política monetária americana) para condução dos juros. Hoje, o gráfico dos dot plots do Fed, que mostra as estimativas apuradas com cada membro do comitê, aponta uma visão mais austera do que as curvas de juros futuros embutem nos preços. Desse modo, caso a visão dos dirigentes sobre o arrefecimento da atividade nos EUA e comportamento da inflação convirjam ao mercado, teríamos um caminho mais facilitado para redução dos juros por lá, o que ainda não é o caso.

Câmbio e o Brasil

Fica implícito o reflexo dessa divergência no comportamento mais volátil do câmbio no Brasil. O diferencial de juros também exerce influência na formação de preços nos vencimentos mais longos da curva de juros doméstica. Ambos os fatores apresentam correlação inversa com o desempenho da bolsa, o que implica em maior dispersão de retornos. Cabe lembrar que esse recuo na curva de juros de longo prazo foi um dos principais fatores ao qual atribuímos o rali de ~25% do Ibovespa de março até seu pico em julho, movimento associado à redução do custo de capital das companhias.

Na China, por sua vez, forma-se um consenso de que o processo de desaceleração ainda não foi totalmente assimilado pelo mercado. Nesse caso, ainda que o Brasil desponte como um destino de investimento ante os riscos do mercado chinês, essa visão é limitada pela preponderância do segmento de commodities na bolsa. Notamos uma melhora dos preços médios de petróleo e minério de ferro em reais dada a recente alta nas cotações e desvalorização do real, mas especialmente no caso do minério de ferro, o cenário negativo associado ao segmento tem influência direta sobre a Vale, responsável individualmente por cerca de 15% do peso do índice.

Ambiente Doméstico

No ambiente doméstico, analisando os ciclos de desempenho da bolsa, seria de se esperar que após o movimento mercadológico de redução do custo de capital, o passo seguinte estaria associado à melhora gradual das expectativas em torno da atividade, o que, por sua vez, tem correlação positiva com o mercado acionário. E aqui notamos uma divergência, enquanto a correlação negativa com o juro longo rendeu o rali da bolsa, as surpresas positivas com o PIB e a revisão das estimativas do Focus para atividade econômica em 2023 e 2024 ainda não surtiram efeito.

De forma geral, essa melhora na atividade não tem sido suficiente para impulsionar a bolsa em decorrência de dois fatores: participação dos segmentos de commodities no índice, com teses de investimento desassociadas de fatores internos, e movimento mais tímido de revisão de estimativas das companhias mais cíclicas, para as quais nossos analistas não esperam recuperação forte de receitas e margens ao longo de 2024.

Assim como alertamos nos últimos meses, o desempenho assimétrico dos papéis nos impõe um processo de seleção de ativos (stock picking) mais complexo, uma vez que não é garantido que blocos setoriais se movam em conjunto. Nossa análise de fatores aponta que as estratégias fundamentalistas de exposição comprada mais vencedoras estão associadas à maior geração de caixa, earnings e dividend yield, enquanto indicadores de momentum apoiam decisões de mais curto prazo.

Nosso monitor quantitativo chama atenção para o volume de papéis depreciados ou com preços em deterioração. De 204 companhias analisadas, 158 (78%) encontram-se em tendência de baixa, com concentração em setores mais cíclicos, bancos e small caps de forma geral. Dentre os piores desempenhos, 14 papéis estão em posição sobrevendida em alguns indicadores, região na qual os repiques podem ocorrer de forma mais acentuada. A outra ponta conta com 39 (19%) ações em tendência de alta, concentradas nos segmentos de saneamento, seguros, telecomunicações e papel e celulose.

O que esperar para o 4T23?

Optamos por iniciar o 4T23 com uma perspectiva mais cautelosa. Nosso alvo de 127 mil pontos foi mantido, mas será revisado no próximo mês. Dentre as indicações fundamentalistas, nossa exposição mais cíclica foi reduzida, agregando nomes com maior dividend yield e que promovam maior descorrelação, mas mantendo, sobretudo, aspectos relacionados à qualidade de resultados. Para as seleções mais técnicas, seguimos com nossos modelos quantitativos orientados para investidores com maior tolerância a risco, entendendo que a antecipação de pontos de inflexão pode proporcionar janelas interessantes de ganhos no curto prazo.

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