O Tesouro Renda+, que passa a ser negociado nesta segunda-feira (30) pelo Tesouro Direto, é uma opção interessante para quem quer se planejar para a aposentadoria, pois permite saber com antecipação quanto investir para receber a quantia desejada durante o período de distribuição de renda do título.
Contudo, antes de apostar nesse novo papel, é importante que o investidor esteja ciente das suas principais características e conheça as vantagens e desvantagens do título em relação a outros investimentos. Abaixo, o especialista Samuel Torres, que é consultor financeiro da Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada, responde algumas perguntas comuns sobre o Tesouro Renda+. Confira:
1. Para que tipo de investidor o Tesouro Renda+ é recomendado?
O Tesouro Renda+ é indicado para investidores que querem garantir uma renda complementar na aposentadoria e têm convicção de que não precisarão resgatar os valores aplicados no curto ou médio prazo.
Isso porque o título tem prazo de vencimento longo e, em função da maneira como é precificado, pode sofrer variações de preço relevantes (marcação a mercado) conforme as condições econômicas do país e do mundo. Portanto, se resgatado antes do vencimento, pode levar o investidor a perdas desnecessárias.
Antes de aplicar no Tesouro Renda+, minha recomendação é que o investidor forme sua reserva de emergência (esse sim um investimento para o curto prazo). No caso dos títulos do Tesouro, o Tesouro Selic seria a opção mais adequada para esse fim.
2. Quais as principais vantagens desse título?
-Facilidade para investir
A primeira vantagem desse título é justamente a facilidade para o planejamento da aposentadoria sem ajuda de um especialista que calcule os aportes – algo que, para a maioria das pessoas, é necessário em outros investimentos.
-Taxa de custódia baixa ou inexistente
Outra vantagem em relação aos demais títulos disponíveis no Tesouro Direto é a possibilidade de redução ou até eliminação do pagamento de taxa de custódia. Nos demais títulos do Tesouro, é cobrada uma taxa de custódia de 0,20% ao ano sobre os recursos investidos. No Tesouro Renda+, a taxa começa mais alta, em 0,50% ao ano, mas cai com o passar do tempo.
Mantendo o título por 10 anos, a taxa de custódia se iguala à taxa dos demais títulos, ou seja, cai para 0,20% ao ano. Mantendo por mais de 20 anos, ela cai para 0,10%. E, segurando o título até o vencimento, existe a possibilidade de a alíquota ser zerada (quando a renda recebida for inferior a 6 salários mínimos).
Ainda assim, é importante ressaltar que a taxa de custódia no caso do Tesouro Renda+ é paga apenas quando há venda antecipada do título ou durante o período de recebimento da renda. No caso dos demais títulos do Tesouro, essa taxa é cobrada de forma proporcional semestralmente, o que impacta negativamente a rentabilidade obtida.
-Correção pela inflação
Por último, a terceira principal vantagem é que a renda recebida é corrigida pela inflação, garantindo a manutenção do poder de compra dos recursos investidos.
3. Quais as desvantagens do Tesouro Renda +?
-IR mínimo de 15%
A principal desvantagem do título é em relação à tributação, que segue a tabela regressiva da renda fixa. A alíquota mínima de Imposto de Renda paga no caso do Tesouro Renda+ é de 15% sobre os rendimentos, podendo chegar a 22,5% dependendo do prazo do investimento.
-Investimento com alta volatilidade
Por último, é importante entender que o Tesouro Renda+ é um título que sofre variações diárias de preço (marcação a mercado). Considerando que são títulos de longo prazo, essas oscilações podem ser bastante relevantes. Por esse motivo, como comentei acima, a indicação é que o investidor aplique no Tesouro Renda+ apenas montantes que consiga manter investidos até o final do período de recebimento de renda.
4. Existem investimentos melhores?
Dependendo do prazo, da renda atual, da forma como gostaria de receber renda durante a aposentadoria, e do tipo de declaração de Imposto de Renda que o investidor utiliza, a previdência privada pode ser mais vantajosa que o Tesouro Renda+. Os motivos são:
-A alíquota mínima de Imposto de Renda paga no caso do Tesouro Renda+ é de 15% sobre os rendimentos (podendo chegar a 22,5%, de acordo com o prazo do investimento). Já na previdência privada, é possível pagar 10% pelo regime regressivo (desde que passados 10 anos da data de cada aporte) ou até receber isenção no regime progressivo – caso a renda do investidor nos anos de resgate ou recebimento de renda seja suficientemente baixa.
-Outra vantagem da previdência privada em relação ao Tesouro Renda+ é que titulares de planos PGBL têm direito a um benefício fiscal de diferimento do pagamento de Imposto de Renda. Funciona assim: ao declarar suas contribuições (limitadas a 12% da renda bruta tributável anual) na declaração de modelo completo, o investidor recebe um abatimento no pagamento de IR que normalmente se reflete na forma de uma restituição maior. Esse valor pode ser reinvestido, gerando uma maior acumulação de patrimônio ao longo do tempo. Aqui é importante ressaltar, contudo, que no PGBL o Imposto de Renda incide sobre o valor total do resgate e não apenas sobre rendimentos, como acontece no VGBL.
-Além disso, enquanto o Tesouro Renda+ possibilita apenas o recebimento de renda por 20 anos, a previdência privada permite a escolha entre 6 tipos de renda, incluindo vitalícia.
“É importante destacar que não podemos dizer que o Tesouro Renda+ é necessariamente melhor ou pior que outras opções de investimento. É preciso analisar o caso particular de cada investidor para avaliar quais opções de investimentos são mais adequadas. Ressalto aqui o uso do plural. Raramente um único investimento atende a todos os objetivos financeiros de um indivíduo. Geralmente, são necessárias algumas opções de investimentos com características diferentes para compor uma carteira adequada aos objetivos e ao perfil de cada investidor. Assim, mesmo nos casos em que o Tesouro Renda+ for uma boa opção para um investidor, dificilmente será a única”, finaliza Torres.
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