Com o intuito de compreender os rumos tomados pela empresa durante a pandemia, conversei com o CFO da Santos Brasil (STBP3), Daniel Pedreira Dorea
Criada em 1997, a companhia se tornou uma das maiores empresas de logística portuária do Brasil. Dona de uma malha de terminais de contêineres, cargas gerais e veículos, a empresa se guia pela lógica do “Porto a Porta”. Após vencer uma concessão para explorar temporariamente o cais do Saboó, em Santos, a empresa entrou no radar do mercado, que passou a recomendar a compra das ações da Santos Brasil.
Ainda durante a pandemia do novo coronavírus, a companhia realizou follow-on, momento em que empresas já listadas na B3 (B3SA3) fazem um novo processo de emissão de ações. No total, R$ 790 milhões foram angariados ao caixa da empresa. Para se ter uma noção do marketshare da Santos Brasil, só em 2019, foram movimentados mais de 1,87 milhão de TEU, tornando-se a responsável por 18% da movimentação de contêineres no Brasil.
Com o intuito de compreender os rumos tomados pela empresa durante a pandemia, conversei com o CFO da Santos Brasil, Daniel Pedreira Dorea.
O que a Santos Brasil faz?
A Santos Brasil é muito associada à operação de contêiner, sobretudo ao terminal de Santos, que é o maior terminal de contêineres da América do Sul. No entanto, a Santos Brasil vai além dessas duas vinculações. Hoje, temos cinco arrendamentos de terminais no Brasil, entre eles, três são terminais de contêineres – um está localizado no porto de Vila de Conde, no Pará; o outro está no Porto de Imbituba, em Santa Catarina; o terceiro é o mais conhecido, localizado no Porto de Santos, em São Paulo, um ativo estratégico belíssimo.
Também possuímos o maior terminal de veículos do Brasil, que operamos em uma área vizinha ao Tecon Santos. Além disso, temos um terminal de carga geral em Imbituba, onde operamos celulose e aço. Agora, também estamos operando dois terminais temporários na região do Saboó. As cargas que manejamos lá também não são conteinerizadas.
Juntando todos esses fatores, temos uma empresa de logística. Portanto, prestamos a solução completa, que gostamos de chamar de “do porto à porta”. Armazenamos contêineres depois do desembaraço, temos uma frota de transporte rodoviário, e dois centros de distribuição em SP. Desse modo, estamos movimentando cargas e contêineres pelo Brasil inteiro, não apenas em Santos. Pelos nossos terminais, 18% da movimentação de contêineres no Brasil é processada. Isso é a Santos Brasil, somos líderes, e mais do que líderes, gostamos de pensar que somos os mais eficientes.
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Há décadas escuto sobre uma possível privatização do Porto de Santos, porém o processo nunca sai do papel. Vocês estão confiantes sobre a entrega da privatização? E como isso afetaria a Santos Brasil?
Acredito que a privatização é um caminho que está tomado, então irá acontecer. O Ministério de Infraestrutura é o grande patrono desta iniciativa, e tem dado provas de que é bom de execução. O ministro Tarcísio Gomes de Freitas é bom em executar projetos, além de possuir um time fantástico de técnicos. Então, eu acredito que a privatização da autoridade portuária de Santos vai acontecer. O primeiro ensaio é a Companhia Docas do Espírito Santo, depois virá a concepção efetiva de Santos.
A Santos Brasil vê isso com bons olhos. Eu acredito que esta é uma notícia positiva, principalmente pela tendência de maior eficiência do agente privado na gestão de ativos. O alinhamento de interesses é maior na prestação de um bom serviço, evidentemente advindo da remuneração que ele persegue do capital que está sendo alocado. Portanto, acredito que a Santos Brasil será positivamente afetada.
O modelo de concessão ainda está sendo estudado. Há uma coordenação sendo tocada pelo BNDES, que também possui um bom time. À medida que o privado passe a gerir o porto, ele tende a ficar mais competitivo, uma vez que o porto presta serviços especiais aos terminais, como, por exemplo, a dragagem. Com essa tendência, os usuários do Porto de Santos também ficarão mais competitivos.
O que precisamos ficar atentos enquanto arrendatários do porto é a impossibilidade de criação de inseguranças jurídicas dos contratos já firmados. Só desejamos que os contratos sejam mantidos no equilíbrio estabelecido. E se for assim, será ótimo, que venha o privado para gerir e incentivar.
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O coronavírus foi um cenário de caos para todas as empresas. O setor aéreo foi um dos mais afetados, logicamente, mas acredito que vocês também foram impactados. Como foi o período pandêmico para a empresa?
Houve uma vasta incerteza do momento, ninguém sabia o que iria acontecer, então foi um desespero geral. Quando isso acontece, nosso primeiro cuidado é preservar a liquidez e o caixa. Porém, também há necessidade de continuar gerando caixa e seguir com as operações. Portanto, implantamos um plano de continuidade do negócio rapidamente, para garantir a plena operação dos nossos terminais – com toda integridade e segurança aos nossos funcionários, é claro. Este plano foi bem-sucedido.
Nós nunca tivemos as nossas operações interrompidas, paralisadas ou suspensas. A companhia tinha um nível de endividamento super baixo, então isso não foi uma grande preocupação. Ao mesmo tempo que ela conseguia manter a operação funcionando, portanto, gerando algum caixa. A gente se comprometeu a atravessar a tormenta e esperou sair bem.
Como a companhia é líder, há o questionamento advindo da crise: quem é melhor posicionado? Quem está com o balanço mais sólido pode sair mais forte, já quem está mais desorganizado fica pelo caminho. Assim, acredito que saímos fortalecidos como empresa. No meio deste caos tivemos um follow-on, portanto o mercado olhou positivamente para a Santos Brasil e desejou gerar capital para o crescimento da empresa.