Em poucas horas, o Comitê de Política Monetária – Copom, Banco Central do Brasil, vai anunciar a taxa básica de juros – Selic, que passará a vigorar por 45 dias. No entanto, uma decisão nunca foi tão aguardada como a de hoje.
O país enfrenta uma taxa de juros em 13,75%, que chegou a essa nível numa sequência de altas iniciada há dois anos. Contudo, o mercado aposta no primeiro corte nesta reunião. O mercado espera, em sua maioria, por uma redução em 0,25 p-b, o que traria a Selic para 13,5%.
Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos, pontua que a redução da taxa básica de juros tende a incitar o consumo, pois o crédito se torna mais barato. Com isso, os consumidores têm condições favoráveis para adquirir aquilo que desejam, como bens duráveis. Esse comportamento tende a impactar positivamente a bolsa de valores e seu principal índice, o Ibovespa. “Em relação aos investimentos, considerando que as ações são fragmentos das empresas, a redução tende a ser benéfica para os resultados gerais das empresas. Isso contribui para impulsionar o Ibovespa”, explica.
Para Bruno Musa, economista e sócio da Acqua Vero Investimentos, a queda da Selic pode impulsionar o crédito, mas precisa vir acompanhada de reformas importantes. Além disso, a proposta poderia melhorar o novo arcabouço fiscal. “ A dívida brasileira continuará crescendo e o país ainda não possui nem uma alíquota em relação à reforma tributária”, destaca Musa.
Musa ressalta que no primeiro momento o custo do crédito não deve sofrer grandes alterações. “A redução da Selic já está precificada. O crédito deve continuar alto por conta de diversos fatores externos, como legislação e pouca concorrência dos bancos, que deixam o capital centralizado.”
A queda dos juros pode até gerar uma sensação de melhoria no curto prazo, por conta da injeção de crédito subsidiado pelo governo, mas traz consequências de médio e longo prazo. “Por isso, é importante avaliarmos quanto o governo continuará injetando em dinheiro através do crédito subsidiado, pois a partir daí poderemos analisar a economia brasileira de forma ampla e a longo prazo”, explica.
Segundo Gustavo Gomes, especialista de renda variável da Acqua Vero Investimentos, com os juros mais baixos, o impacto será sentido de formas diferentes em cada setor. “O setor varejista deve ganhar protagonismo, principalmente com a renegociação de dívidas já vigentes”, explica.
Demais setores impactados
O setor de exportação pode ser afetado negativamente, pois com juros baixos a injeção de capital é maior do exterior, então o dólar tende a cair. “Partindo desse movimento, devemos observar empresas como Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11), que exportam quase tudo o que é produzido. Além delas, Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), pois vendem muito, o que pode compensar um pouco uma possível queda”, ressalta.
E o fundos de investimentos?
Uma das classes de ativos que deve se beneficiar pela queda da Selic é a de fundos imobiliários. Gabriel Barbosa, sócio da TRX Investimentos e gestor do TRXF11, comenta que o mercado de fundos imobiliários está ansioso por esse momento e já vem se antecipando. “Quando olhamos a performance dos últimos 4 meses, estamos falando de uma valorização de 15,8% do IFIX, o que é bem relevante para esse modelo de fundo, e mostra que o setor já está se preparando para esse movimento de corte de juros, que deve se iniciar nesta semana”, explica.
Na perspectiva do gestor, os fundos de tijolo, classe que mais sofreu com a escalada dos juros, devem voltar a ganhar protagonismo. “Os fundos de papel performaram muito bem nesse período de alta, porque conseguiram repassar os dividendos. Com esse movimento, acreditamos que o protagonismo passe para o tijolo, que tem um grande potencial nesse ciclo de corte, com a valorização das cotas da B3”, explica.
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