A Petrobras (PETR4) reportou seu pior desempenho entre ações globais na última sexta-feira (19) por conta da indicação do presidente Jair Bolsonaro de colocar um general no comando da petroleira e todo movimento decorrente disso.
Levantamento do Valor Econômico indica que em dólares as ações ordinárias da Petrobras acumulam queda de 10,51%, enquanto as preferenciais recuam 8,23%.
A desvalorização já vinha ocorrendo antes mesmo do tombo, de 7,12% e 5,58% dia 19 quando o governo de Jair Bolsonaro mostrou incômodo com o aumento de preços de combustíveis e deu novos sinais de interferência na companhia.
Petrobras: XP Investimentos
Também na última sexta-feira (19) a XP Investimentos alterou a recomendação de neutro para venda por conta de todo estresse envolvendo a estatal.
“Nossa mudança de recomendação reflete o anúncio de que o Governo Federal decidiu substituir o CEO da companhia pelo General Joaquim de Silva e Luna. Vemos esse anúncio como uma sinalização negativa, tanto de uma perspectiva de governança, dados os riscos para a independência de gestão da Petrobras, como também por implicar riscos de que a companhia continue a praticar uma política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços”, destacou.
E disse mais: “em nossa opinião, existem muitas incertezas para justificar uma tese de investimento na Petrobras, e acreditamos que as ações deverão daqui em diante negociar com um desconto mais alto em relação ao histórico e a outras petroleiras globais.”
Desta forma, a gestora alterou PETR4 de neutro para venda com preço-alvo revisado de R$ 24 por ação ante os R$ 32 por ação de antes.
Acionistas temerosos
Levantamento do Estadão aponta que antes de o anúncio da troca ser oficializado, o valor de mercado da empresa caiu de R$ 383 bilhões para R$ 354,8 bilhões. A expectativa é de que caia ainda mais nesta segunda-feira (22). E a avaliação é que, se os próximos passos do governo forem no sentido de interferir na política de preços dos combustíveis, essa queda será potencializada, trazendo fortes perdas.
Ao jornal, o presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Fábio Coelho, o episódio da última sexta-feira, com a demissão do presidente da Petrobras pelas redes sociais, é uma demonstração de “abandono de práticas consagradas de governança”.
As críticas são, principalmente, quanto ao modo como a demissão aconteceu, sem que o conselho de administração tivesse oportunidade para, internamente, avaliar a indicação do general Luna ao cargo, antes de ela ser anunciada publicamente. “O ponto que chamou mais atenção não foi exatamente a qualificação profissional do novo presidente, mas o desrespeito ao conselho de administração”, acrescentou.
A Amec e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) divulgaram nota conjunta na qual destacam a preocupação dos minoritários com uma possível interferência política no comando da estatal. “Nessas situações, a observância de práticas consagradas de governança corporativa se torna ainda mais relevante para garantir que os interesses de todos – acionista controlador, investidores e outras partes interessadas – sejam levados em consideração”, diz a nota.
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Petrobras – CVM
Já a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) analisa a abertura de um processo administrativo para investigar a nomeação do general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras, que teve forte impacto sobre o valor das ações da estatal.
O objetivo é checar se o anúncio seguiu as regras de divulgação de fatos relevantes que possam ter impacto no valor das ações das companhias. O anúncio da troca foi feito oficialmente no fim da tarde de sexta (19), mas na quinta (18), o presidente Jair Bolsonaro já havia sinalizado a mudança.
Oficialmente, a CVM diz apenas que não comenta casos específicos e “acompanha e analisa informações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”.
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