O ano de 2023 foi marcado por uma grande volatilidade no mercado de câmbio brasileiro, resultado de uma combinação de fatores internos e externos que afetaram a dinâmica da moeda nacional. O economista da CM Capital, Matheus Pizzani, faz uma avaliação dos principais acontecimentos que determinaram o desempenho do real frente ao dólar e as expectativas para o encerramento do ano.
De acordo com ele, o primeiro semestre de 2023 foi surpreendente, pois o real se valorizou fortemente, apoiado por três elementos: a alta da taxa de juros, a retomada do crescimento econômico e o saldo favorável da balança comercial. “Esses fatores foram fundamentais para aumentar a atratividade do país para os investidores estrangeiros e aliviar as tensões inflacionárias, fortalecendo a moeda nacional”, diz o economista.
No entanto, o cenário mudou no terceiro trimestre, quando o Brasil enfrentou um quadro externo mais desfavorável. Pizzani ressalta que o país foi impactado por crises no sistema financeiro internacional, provocadas por apertos monetários inéditos em economias avançadas e pelo surgimento de novos conflitos. “Esses fatores elevaram o grau de incerteza e o risco-país dos emergentes, provocando uma saída de capitais e uma desvalorização do real”, observa.
Para o quarto trimestre, o economista da CM Capital espera uma continuidade da tendência de queda do real, mas em menor ritmo. Ele explica que os fatores positivos que impulsionaram a moeda no primeiro semestre devem arrefecer nos próximos meses. “Por questões sazonais, os superávits da balança comercial tendem a diminuir no final do ano, enquanto o ciclo de corte da Selic e os efeitos defasados da política monetária devem limitar o fluxo de capital externo tanto no mercado de renda fixa quanto no de renda variável”, esclarece Pizzani.
A desvalorização decorrente deste processo, contudo, não deve ser tão acentuada, com a estimativa atual da CM Capital indicando um câmbio de R$ 5,05 ao final de 2023.
Em contrapartida, o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, acredita que a moeda americana deve se manter estável em torno de 4,8 reais até o final de 2023. Ele aponta como fator positivo a expectativa de aprovação da reforma tributária no senado no início de novembro e como fator negativo a incerteza sobre o término do ciclo de aperto monetário do Federal Reserve dos Estados Unidos, que ainda tem duas reuniões programadas para este ano.
No entanto, para o segundo semestre de 2024, ele prevê uma alteração de cenário. Cruz concorda com a análise de que o Fed vai iniciar um processo de redução de juros gradual e moderado no ano que vem. Ele acredita que a diminuição será mais intensa do que o mercado espera. A partir desse momento, quando esse debate ganhar mais destaque, o dólar tende a perder força ao longo do ano que vem, o que pode levar o Banco Central do Brasil a reduzir o ritmo de elevação dos juros. “Neste ano, com certeza ele vai aumentar menos os juros, o que favorece um real mais forte. Mas sabemos que essa convergência diminui o diferencial de juros e afeta o real”, declara.
Por isso, para o ano que vem, no primeiro trimestre o economista acredita em uma pressão sobre o real para cima, e no final do primeiro semestre, quando a questão cambial ficar mais clara, poderemos ver um real mais valorizado, curiosamente com juros menores. “A situação dos Estados Unidos ainda será determinante, podendo levar o dólar a ficar próximo de 5 no começo do ano e próximo de 4,80 ou 4,70 no final do semestre”, avalia Cruz, da RB Investimentos.