A fuga de capital estrangeiro da Bolsa perdeu força em agosto, segundo o Valor Econômico.
Conforme o jornal, agosto foi o segundo melhor mês do ano de participação do investidor estrangeiro no mercado secundário, apesar do saldo líquido ter ficado negativo em R$ 444,1 milhões.
A explicação pode estar nos preços baixos em dólar e na temporada de resultados corporativos do segundo trimestre de 2020, que foi o melhor do que o esperado.
Pior mês foi março
Em 2020, o saldo da Bolsa está negativo em R$ 85,4 bilhões. O pior mês do ano foi março, ápice da crise do coronavírus, quando foram sacados R$ 24,2 bilhões.
Em junho, houve uma melhora e o saldo fechou positivo em R$ 343 milhões, movimento que não se sustentou no mês seguinte. Diante do risco fiscal, julho voltou a ter saída de R$ 8,4 bilhões.
Já em agosto o fluxo estrangeiro permaneceu positivo ao longo de quase todo o mês, chegando a um saldo de R$ 1,45 bilhão no dia 28.
Com o aumento das incertezas sobre os rumos das contas públicas nas últimas semanas, houve uma virada no dia 31, quando os saques somaram R$ 1,89 bilhão.
Ibovespa
De acordo com o jornal, naquele dia o Ibovespa fechou em baixa de 2,72%, recuperando-se na sessão seguinte (alta de 2,82%) com a perspectiva de encaminhamento da reforma administrativa. Ontem, o dia foi de correção – o índice caiu 0,25%, aos 101.911 pontos.
Enquanto o Ibovespa patina sem sair do lugar, com doses reforçadas de volatilidade, o que se observa é o interesse dos estrangeiros por histórias específicas no mercado de ações.
Em dólar
Em dólar, o mercado brasileiro tem ficado para trás em relação a outros emergentes.
Esse desconto também pode incitar o interesse dos investidores lá de fora que busca oportunidades de aplicar recursos em um mundo de juros muito baixos e liquidez excessiva.
O principal ETF de mercados emergentes no mundo, o iShares MSCI Emerging Markets, está praticamente estável no acumulado do ano até aqui, enquanto o ETF do Brasil já perdeu um terço do valor.
Por outro lado, existe uma preocupação macroeconômica que está muito centrada na situação fiscal. E isso não mudou. Pelo contrário, muitas vezes, parece que o estresse até se agravou no mercado.
Em meio à crise, os investidores optaram por mais ações de valor, que são aquelas ligadas à tecnologia. Agora, pode haver aumento da procura por ações cíclicas, ou que pode significar entradas na bolsa brasileira, concentradas fortemente em bancos e commodities.
Presidente da B3, Gilson Finkelsztain lembrou que o movimento de saída dos estrangeiros foi visto em todos os emergentes, em função das incertezas relacionadas à pandemia do coronavírus.
“Mas não vejo que os estrangeiros desistiram do Brasil, de forma nenhuma. Em follow-ons e IPOs, de 30% a 40% ficam com estrangeiros”, disse.
Mercado primário
No mercado primário, os irmãos conhecidos com 32,4% das ofertas de ações, o equivalente a R$ 16,4 bilhões.
No total, os IPOs e follow-ons movimentaram R$ 50,5 bilhões, conforme dados disponibilizados pela B3 até julho, sendo a última oferta contabilizada a da Dimed, dona da rede de farmácias Panvel.
Segundo Finkelsztain, o estrangeiro é “um pouco mais cético” sobre a situação fiscal do Brasil e a forma da recuperação da atividade e vai aguardar para alocar uma parcela maior. “O mundo está líquido com as injeções de capital feitas e acredito que o Brasil não existe radar dos estrangeiros se fizer a lição de casa de forma correta.”
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