Como a teoria da agência pode explicar o que aconteceu com BBAS3

Nos últimos dias as ações do Banco do Brasil (BBAS3), tiveram forte queda. Apesar de todas as ações do setor bancário, tendo em vista os temores em relação à situação econômica do Brasil por conta da preocupação em torno das questões fiscais e do avanço da COVID-19, como pode ser visto pelo desempenho das taxas de juros futuras e pelo desempenho do IFNC (IFINANCEIRO), índice do setor financeiro de ações de empresas do setor cotadas na B3 como pode ser visto abaixo:

BBAS3: taxas de longo prazo

Quanto às taxas de juros de longo prazo, elas levam em consideração ao risco percebido em relação ao país. Apesar de também evidenciar que os agentes acreditam que em algum momento a taxa de juros pode chegar a determinado patamar dentro do espaço de tempo ao qual ela se refere, por exemplo, se a taxa de juros para 2027 estiver em 7% é uma sinalização de que os agentes acreditam que em algum momento até 2027 a Selic pode chegar a 7%, o indicador também mostra que o mercado está cobrando uma taxa maior para financiar a dívida brasileira, devido ao risco inerente ao país. Após registrar forte queda, com a melhora nas expectativas em relação à COVID-19 e aparente amenização no cenário político, as taxas de juros voltaram a registrar alta devido ao aumento no número de infectados pela doença, atraso na distribuição de vacinas e possibilidade de manutenção do auxílio emergencial. Segue abaixo o a taxa de juros futuro para 2027:

Variável adicional

Todavia, no caso do Banco do Brasil (BBAS3), há uma variável adicional para o seu mau desempenho ao dos últimos dias. Essa variável adicional é decorrente do que a teoria econômica chama de Conflito de Agência.

O Conflito de Agência ou Teoria do Agente-Principal desenvolvida pelos economistas Jensen e Macking. Tal teoria parte do princípio de que os agentes econômicos, sejam eles governo, família ou empresas, afirmam contratos bilaterais, os quais podem ser rompidos a qualquer momento. Como o contrato é bilateral, existem dois atores econômicos dentro da negociação, um intitulado como “agente’ e outro o “principal”. O Agente é o participante da negociação que possui todas as informações referentes ao contrato, logo é o participante da operação que pode tomar decisões que resulte em consequências negativas para o principal. Assim, o principal é a parte do contrato que não possui todas as informações e é quem pode ser prejudicado no momento da operação.

O conflito de agência pode gerar mais outros dois problemas, a seleção adversa e o risco moral. A seleção adversa se baseia na hipótese do que a demanda pelo contrato ocorre de forma ineficiente, por exemplo, ao selecionar um veículo, o agente não tem todas as informações referentes ao veículo, sem saber se é um bom carro ou não. A outra possibilidade problema ocasionado pelo conflito de agência ocorre depois que contrato é feito e é chamado de risco moral. No caso do risco moral, quando o principal aceita o contrato, o agente pode ter diversas atitudes que podem afetar o principal sem que o último saiba.

Um exemplo é do mercado de serviços, onde o principal é a seguradora e o principal é o cliente. Ao contratar o serviço de uma seguradora, o cliente pode não tomar os cuidados necessários, gerando custos para a corretora de seguros que poderiam ser incluídos no valor do seguro antes das duas partes firmarem o contrato.

Feitas as considerações sobre o conflito de agência, agora é possível entender melhor o que aconteceu com a queda do Banco do Brasil (B3SA3) na bolsa e porque está a destoar de seus pares.

Conflito da agência

O conflito de agência ficou evidenciado pelo fato de Jair Bolsonaro informar que poderia demitir o presidente do banco, André Brandão. Apesar do recuo do Presidente da República, por conta da pressão do ministro da economia, Paulo Guedes, o mercado, isto é, os acionistas minoritários (BBAS3), consideraram a medida uma espécie de atitude que poderia prejudicá-los, haja vista a mudança abrupta na companhia e tendo em vista que Bolsonaro e sua base se elegeram com o argumento liberal e de pouca intervenção. Logo, a situação pode ser vista como um problema de risco moral, pois todos os investidores que aplicaram seus respectivos recursos nas ações da companhia, tinham algumas projeções criadas quanto à companhia e sua gestão. Como o governo é o acionista majoritário, é ele quem pode tomar as decisões que podem afetar os demais acionistas, logo o Estado assume o papel de “agente” e os demais investidores de “principal”.

Concentração acionária

Em outros países, principalmente nos anglo-saxões, a concentração acionária, inclusive em companhias públicas, é muito menor, o que contribuiu para diminuir os custos dos conflitos de agência.

Os conflitos de agência não acontecem apenas em um momento de agência não dependem apenas do momento em que o contrato é feito para que ocorra, ele pode acontecer a qualquer momento enquanto as interações sociais acontecem, de modo que existam instituições formais e/ou informais que façam com que tal problema seja mitigado.

No Brasil, existem algumas medidas de governação corporativa que mitigou boa parte dos problemas que ocorriam nesse sentido, por intermédio das regras do Novo Mercado, um segmento de listagem da B3, isto é, companhias que entram no Novo Mercado sinalizam para seus possíveis investidores que possuem um padrão de governança mais sofisticado e que problemas de simetria de informação serão mais difíceis de acontecer.

Todavia ainda existem idiossincrasias relacionadas á questões estruturais no Brasil, como o tamanho do mercado de capitais, a participação do governo nas companhias públicas e até mesmo outras questões institucionais que precisam melhorar no país.

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