CNC projeta queda para o varejo

Queda de 0,8% nas vendas em julho surpreendeu setor

O volume de vendas no comércio varejista brasileiro recuou 0,8% em julho, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada hoje (14/09) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante dessa queda das vendas, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) reduziu de +1,7% para +1,3% a previsão para o crescimento das vendas neste ano. Essa perspectiva decorre da expectativa de que o consumidor sinta o aperto monetário, especialmente por conta do aumento da inflação, no quarto trimestre. Em curto prazo, no entanto, o cenário segue positivo, com a retomada dos níveis de ocupação e a desaceleração da inflação.

O volume das vendas no varejo vem mostrando desaceleração desde o início de 2022 e, em julho, apresentou o terceiro recuo consecutivo. As quedas se deram de forma disseminada, já que 9 dos 10 segmentos avaliados registraram taxas negativas. Apenas o segmento de combustíveis e lubrificantes teve crescimento do volume de vendas, estimulado pelo corte nas alíquotas do ICMS, com avanço de 12,2% no período.

Os destaques negativos foram as retrações no ramo de tecidos, vestuário e calçados, com queda de 17,1%, e na venda de móveis e eletrodomésticos, que apresentou redução de 3%. A sequência de resultados negativos voltou a aproximar o nível de atividade do setor ao patamar pré-pandemia (0,5% acima do apresentado em fevereiro de 2020).

“Embora, do ponto de vista dos preços, julho tenha se caracterizado pela maior deflação para aquele mês desde o início da série histórica do IPCA, o recuo nos preços não se traduziu em aumento generalizado de vendas”, comenta o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

“De qualquer forma, a expectativa é que, com a entrada em circulação de recursos provenientes das medidas de estímulo ao consumo a partir de agosto, os volumes de vendas no varejo voltem ao campo positivo no mês subsequente”, pondera o economista Fabio Bentes. A CNC estima que os recursos oriundos da ampliação temporária do Auxílio Brasil têm potencial para impactar as vendas do setor em R$ 16,3 bilhões até o fim deste ano. Além disso, eventos extraordinários como a chegada do 5G e o Mundial de Futebol tendem a aquecer a demanda em determinados segmentos, no decorrer de 2022.

Hiper e supermercados lideram altas de preço

Ainda impactados pelos reajustes dos preços no atacado, segmentos de peso no varejo registraram altas de preço significativas em julho. Hiper e supermercados tiveram alta de 1,4%, seguidos de materiais de construção, com ampliação de 1%, e de artigos farmacêuticos, que ficaram 0,7% mais caros. “Consequentemente, a contrapartida foram quedas significativas das vendas”, sugere o economista da CNC responsável pelo estudo, Fabio Bentes. Os preços no atacado, medidos pelo Índice de Preços ao Produtor – apurado pelo IBGE –, avançaram 18% nos últimos 12 meses.

“Adicionalmente, setores nos quais a evolução dos preços não foi tão desfavorável amargaram perdas no mês, sugerindo maior peso do encarecimento do crédito na decisão dos consumidores, como na aquisição de móveis e eletrodomésticos, itens de informática e comunicação e no comércio automotivo”, avalia Bentes. De acordo com o Banco Central, a taxa média de juros com recursos livres voltados às pessoas físicas, que havia rompido a barreira dos 50% ao ano em maio, avançou para 51,5% ao ano, no mês seguinte – o maior patamar dos últimos três anos.

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