O conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e alta da incerteza no cenário econômico mundial. Com isso, o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas. Desde a última reunião, a maioria das commodities teve avanços relevantes em seus preços, em particular as energéticas. Essas conclusões estão na ata do Banco Central do Brasil – BCB divulgadas hoje.
A reorganização das cadeias de produção globais, com a criação de redundâncias na produção e no suprimento de insumos e mudança no tratamento dos estoques de bens ganhou novo impulso com o conflito na Europa e as sanções à Rússia. Na visão do Comitê de Política Monetária – Copom, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se elevar a pressão inflacionárias por mais tempo na produção global de bens.
Sobre a atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do quarto trimestre de 2021 apontou ritmo de atividade acima do esperado, com sinais melhores para 2022.
Indicadores relativos ao comércio e serviços ficaram melhores que a esperada em janeiro, enquanto a indústria contraiu no mesmo mês. O mercado de trabalho seguiu mostrando recuperação consistente de empregos no último trimestre de 2021 e em janeiro de 2022.
“Para 2022, o Copom segue avaliando que o crescimento tende a ser beneficiado pelo desempenho da agropecuária, ainda que em volume menor que o projetado na última reunião, e pelo processo remanescente de normalização da economia – particularmente no setor de serviços e no mercado de trabalho.”
A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou ainda mais. “As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente”, citou o BCB. As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,4% e 3,7%, respectivamente.
Preço do Petróleo
O preço do petróleo segue perto da curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$ 100,00 o barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023.
“As políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país”, citou o Copom.
Sobre as reformas e os ajustes, o Comitê reiterou também que o processo é necessário na economia brasileira “é essencial para o crescimento sustentável da economia”. Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de “ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”.
Conflito no Leste Europeu
O conflito na Europa adiciona ainda mais incerteza e volatilidade ao cenário prospectivo, e impõe um choque de oferta importante em diversas commodities. O Comitê considerou que a boa prática recomenda que a política monetária reaja aos impactos secundários, prática que leva em consideração as usuais defasagens dos efeitos da política monetária.
“O Copom concluiu então que seria adequado manter a hipótese usual no cenário de referência, mas adotar como mais provável uma alternativa para a trajetória de preços do petróleo até o fim de 2022. Para as projeções a partir de 2023, o Comitê decidiu manter sua premissa mais conservadora. O Comitê considera que a divulgação de cenário alternativo é particularmente útil e informativa em ambiente altamente incerto.
Quanto ao balanço de riscos, o Comitê mantém o viés altista para as projeções dos seus cenários. Como consequência, o Copom avaliou que, considerado esse viés devido à assimetria de riscos, suas projeções se encontram acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta para 2022, e ainda ao redor da meta para 2023. Diante desses resultados, e da avaliação do Comitê a respeito da probabilidade de cada cenário, o Copom considerou que, neste momento, um ciclo de aperto monetário semelhante ao utilizado nos seus cenários é o mais adequado.
Alta na Selic e as Altas
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 11,75% a.a. Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, finaliza a Ata.
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