A inflação de setembro da Zona do Euro mostrou um avanço de 9,9% y/y no headline, acima da leitura anterior de 9,1%.
O volume útil de gás natural armazenado se encontra acima da média histórica para o período, mas representa um risco para 2023 se não houver reposição por um substituto do gás russo.
Podem ser anunciadas alterações no discurso do APP e nas condições da TLTRO. Esperamos que o ECB suba as taxas de juros novamente em 75bps e permaneça data dependent.
Inflação
A inflação de setembro medida pelo HICP (Harmonized Indices of Consumer Prices) da Zona do Euro mostrou um avanço de 9,9% y/y no headline, acima da leitura anterior (9,1%) e marginalmente abaixo dos 10,0% esperados após a leitura preliminar. Dessa forma, o índice estabeleceu novamente um novo recorde. A leitura subjacente, por sua vez, saiu de 4,3% y/y para 4,8%, em linha com a expectativa.
Por dentro do índice, destacam-se novamente os componentes de alimentação (13,8% vs. 12,4% anterior) e moradia (21,1% vs. 19,7% anterior). Moradia contempla itens de energia, que têm sido fortemente impactados pelo conflito no leste europeu. Dentre eles, o item de maior variação foi o de combustíveis líquidos (79,8% vs. 79,5%), seguido do gás natural (76,2% vs. 66,2%) e dos combustíveis sólidos. A eletricidade, por sua vez, arrefeceu de 39,9% para 39,6%.
Excluindo os componentes mais voláteis, o índice foi novamente puxado pelas aberturas relacionadas aos serviços, como transporte (10,9% vs. 9,9% anterior), restaurantes e hotéis (8,5% vs. 8,1% anterior) e recreação e cultura (4,6% vs. 4,8%).
Por países constituintes do bloco, destaca-se a variação de 25,2% y/y da Estônia e 21,4% da Letônia. A Alemanha registrou 8,8% no índice cheio (vs. 8,5% anterior), e 3,4% no subjacente (vs. 3,2% anterior).
Já a França desacelerou de 6,6% para 6,2% no headline, e de 4,1% para 3,7% no core.
Em termos de capacidade energética, segundo os dados do Inventário de Amazenamento de Gás Agregado (AGSI, na sigla em inglês), o nível de gás natural armazenado agregado da Europa se encontra acima da média histórica observada para o período. Contudo, destaca-se que, pelo padrão sazonal (início do inverno no hemisfério norte), o volume de retiradas tende a subir. Portanto, caso a UE não reponha seus estoques por um substituto do gás russo, o volume de injeções ao sistema tende a cair, comprometendo o armazenamento em 2023.
Recap
O Banco Central Europeu (ECB) elevou suas taxas de juros em 75bps, a maior alta da história da autarquia. Com isso, a main refinancing rate ficou em 1,25%, a marginal lending facility rate em 1,50% e a deposit facility rate em 0,75%.
No comunicado, o ECB antecipou novas altas em várias (several) reuniões à frente, com a magnitude delas a depender do cenário. O documento também trouxe as projeções atualizadas da autarquia, com revisões altistas para a inflação e baixistas para a atividade. Vale destacar que o ECB antevê contração da atividade em 2023 em seu cenário pessimista.
Não houve alterações nos reinvestimentos na carteira do programa de compras do PEPP e do APP. Também não foi dado nenhum detalhe acerca do TPI.
Nota-se que, apesar da decisão de alta ter sido unânime, houve diferentes visões acerca do tamanho da alta. Nesse sentido, Christine Lagarde advertiu que movimentos de 75bps não são a norma. Lagarde disse ainda que “several meetings” pode significar algo entre duas e quatro reuniões.
Sobre a taxa neutra de juros, o conselho do ECB não sabe exatamente qual é o patamar. Entretanto, foi dito que, quanto mais longe da taxa terminal, maior o ritmo de aumento.
Comunicação recente As semanas que se seguiram foram de instabilidade. O governor do Banco da França, François Villeroy, afirmou que seria difícil determinar a magnitude da próxima alta diante da volatilidade nos mercados.
A discussão sobre o patamar do Euro (iniciada ainda em junho por Lane) se aprofundou nas últimas semanas. A própria Lagarde reconheceu a fraqueza do Euro (ante o Dólar) como fator adicional pressionando a inflação pelo lado de tradables.
Diversos membros do ECB aumentaram a probabilidade de recessão em 2023 Ainda assim, ressaltaram que, apesar de ser um risco baixista para os preços, uma recessão não seria suficiente para frear a inflação.
Segundo Philip Lane, o economista-chefe do comitê, apesar das expectativas das famílias de três anos a frente terem subido acima da meta, não há indícios de ampla desacoragem das expectativas de inflação do médio prazo. Caso houvesse, Lagarde afirmou que a política de juros residiria em terreno restritivo.
Espera-se que o conselho do ECB avance a discussão do Quantitative Tightening iniciada na última reunião. Contudo, segundo a Lagarde, a implementação será feita somente após a normalização dos juros. Ainda assim, é esperado algum grau de endurecimento do discurso acerca do APP.
Adicionalmente, podem ser anunciadas alterações nas condições da TLTRO (Targeted Longer-Term Refinancing Operation), que foram introduzidas para aumentar a oferta de crédito. Há duas semanas, fontes da Reuters disseram que os membros do conselho estavam perto de um acordo para alterar os termos dessa categoria de crédito. O acordo poderia incluir mudanças de termos, tiering e/ou remuneração.
Em relação à trajetória de juros, ainda não há consenso quanto à taxa terminal. O vice presidente, Luis de Guindos, argumentou que, diante o nível de incerteza atual, é arriscado determinar por ora o nível da taxa terminal. Ainda assim, alguns governos – Bostjan Vasle (Banco da Eslovênia), Peter Kazimír (Banco da Eslováquia), Robert Holzmann (Banco da Áustria) e Gediminas Simkus (Banco da Lituânia) – declararam-se favoráveis à uma nova alta de 75bps.
Diante disso, esperamos que o ECB suba as taxas de juros novamente em 75bps e permaneçam data dependent em relação ao movimento seguinte, mas destacamos que alguns esperam chegar ao neutro antes do ano terminar.
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